Cegonhas já não vão para África e alimentam-se nos aterros

Biólogos colocaram equipamentos de GPS nas aves para lhes estudar os hábitos
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A cegonha-branca (Ciconia ciconia) chegou a estar em declínio em Portugal nos anos 70 e 80, mas isso já lá vai. Desde então, a sua população aumentou 10 vezes, de 1187 aves, em 1995, para 14 mil, que além disso se tornaram residentes - deixaram de passar o inverno em África. As alterações climáticas estarão a dar uma ajuda, mas o essencial é que a cegonha-branca encontrou uma estratégia infalível para prosperar: vai às lixeiras e aos aterros buscar alimento.

Havia observações esporádicas que apontavam neste sentido, mas um estudo publicado hoje por investigadores portugueses e britânicos na revista Movement Ecology veio confirmar, depois de dois anos de avaliações sistemáticas, que é isso que está a acontecer.

Para chegar a esta conclusão, a equipa liderada pela bióloga Aldina Franco, da universidade britânica de East Anglia, colocou pequenos equipamentos de GPS em 48 cegonhas-brancas em várias regiões do Alentejo e do Algarve, e seguiu-as durante vários meses.

"Descobrimos que os aterros permitem que as aves usem os ninhos ao longo do ano, o que é um comportamento completamente novo, surgido muito recentemente", explica Aldina Franco, citada num comunicado da sua universidade. "Esta estratégia dá às cegonhas residentes a oportunidade de escolherem os ninhos mais bem localizados [em relação aos locais onde se alimentam] e de iniciarem mais cedo a reprodução", sublinha.

As observações da equipa, que incluiu igualmente investigadores da Universidade de Lisboa, permitiram verificar que as cegonhas chegam a fazer viagens de ida e volta, entre o ninho e o aterro da região onde estão instaladas, da ordem dos cem quilómetros, para ali buscarem alimento durante os meses de inverno. Na época de reprodução, essas viagens encurtam para metade. "São distâncias bastante maiores do que supúnhamos", garante Aldina Franco.

Mas se esta é uma história de sucesso na conservação, já nova incerteza se levanta no horizonte: as novas diretivas europeias vão impor o fim dos aterros a céu aberto. "As cegonhas vão ter de procurar uma alternativa para se alimentarem no inverno, o que pode vir a ter um impacto importante", antecipa a bióloga. Os estudos, depois, dirão.

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