CEDEAO envia força de estabilização para Bissau
Os chefes de Estado e de Governo da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) decidiram enviar uma força de apoio à estabilização para a Guiné-Bissau, voltando a "condenar firmemente" a tentativa de golpe de Estado ocorrida na terça-feira. O anúncio, sem mais pormenores, foi feito na declaração final da conferência extraordinária que decorreu na quinta-feira em Acra, no Gana, e que tinha sido marcada para analisar a instabilidade fruto de outros golpes nos últimos 18 meses no Mali, na Guiné-Conacri e, já em janeiro, no Burkina Faso.
Tanto o gabinete do presidente Umaro Sissoco Embaló como o do primeiro-ministro Nuno Nabiam mantiveram esta sexta-feira o silêncio em relação à decisão do envio desta força da CEDEAO. Na cimeira do bloco de 15 países, a Guiné-Bissau esteve representada pela chefe da diplomacia, Suzi Carla Barbosa.
Esta não é contudo a primeira vez que a CEDEAO envia estas forças de paz para o país. Já o tinha feito em 2012, para guardar edifícios públicos entre outras missões, depois do golpe militar desse ano que derrubou o primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior (um dos candidatos à segunda volta das presidenciais) e o presidente interino Raimundo Pereira, no poder após a morte de Malam Bacai Sanhá por doença. A força só deixou o país em 2020.
Na terça-feira, homens armados atacaram o Palácio do Governo da Guiné-Bissau, onde decorria um Conselho de Ministros, com a presença de Embaló e Nabiam. O ataque causou pelo menos oito mortos, segundo o último balanço do governo, que reviu em baixa o número de vítimas mortais. Esta sexta-feira, foram decretados dois dias de luto nacional, que serão assinalados este sábado e domingo.
Embaló considerou que o ataque foi uma tentativa de golpe de Estado que poderá também estar ligada a "gente relacionada com o tráfico de droga". As Forças Armadas estão a proceder a um inquérito para apurar o que aconteceu, tendo também recebido ordens do Conselho Superior de Defesa Nacional, presidido pelo presidente, para reforçar ações de vigilância e de patrulhamento em todo o território. O vice-chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, general Mamadu "Nkrumah" Turé, substitui, interinamente, o chefe das Forças Armadas guineenses, general Biagué Na N"tan, que está a receber tratamento médico no estrangeiro.
Entretanto o governo declarou também o estado de alerta até 5 de março, no âmbito do combate à covid-19, com reforço de medidas de controlo de vacinação e proibição de eventos políticos, sociais e culturais. Tal decisão, que o governo justifica por o país estar a atravessar a quarta vaga da pandemia (apesar de os caso registados nas duas últimas semanas terem diminuído) poderá comprometer o congresso do maior partido da oposição, o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), que está marcado para ocorrer de 17 a 20 de fevereiro. "É proibida a realização de atividades político-partidárias, nomeadamente comícios, reuniões de base, durante o período de vigência deste decreto", refere o decreto divulgado esta sexta-feira.