Ceausescu atrai turistas 20 anos após execução

Palácio do ditador em Bucareste e casa onde este cresceu, a 150 quilómetros dali, são hoje local de peregrinação para quem visita o país<br />
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Vinte anos depois da morte, a 25 de Dezembro, do ditador romeno Nicolae Ceausescu, os locais simbólicos do “génio dos Cárpatos” atraem os turistas. Símbolo máximo dos sonhos de grandeza do homem forte romeno, a Casa do Povo, o seu palácio faraónico que exigiu a destruição de sete quilómetros quadrados de bairros históricos de Bucareste, é hoje o destino número um para os turistas que visitam a capital romena.
No Verão, o Palácio do Povo recebe mais de mil visitantes por dia, vindos sobretudo de Israel, França e Alemanha. “É o primeiro local turístico que visito na Roménia. Estou muito interessado porque é uma parte importante da história”, explica Niels, um holandês de 27 anos. “Todos os visitantes fazem a ligação entre este edifício e Ceausescu”, explica à AFP Adina Mihai, guia no segundo mais edifício administrativo do mundo depois do Pentágono e que recebe hoje o Parlamento romeno. “Ficam impressionados com as dimensões”, acrescentou Mihai. O palácio contém um milhão de m3 de mármore, 200 mil m2 de tapetes e 900 mil m3 de madeira.
Mais de 20 mil operários e 200 arquitectos participaram, de dia e de noite, à construção da Casa do Povo, iniciada em 1984. Com a queda de Ceausescu, cinco anos depois, 60% do edifício estavam prontos, explica Mihai. Abriu ao público em 1994. “Quer queiramos, quer não, o palácio torna-se no símbolo de Bucareste”, declarou à AFP Traian Badulescu, porta-voz da Associação Romena das Agências de Turismo. Badulescu faz parte das 40 mil pessoas cujas casas foram destruídas para construir o Casa do Povo. “Tinha sete anos. Foi traumático termos de sair de uma casa bonita num bloco de apartamentos. Foi uma tragédia, muitos suicidaram-se. Mas não odeio a Casa do Povo”, explicou Badulescu. Para ele, o edifício deve ser valorizado, já que existe.
“É uma parte negativa da História, mas não deve ser apagada”, afirma o porta-voz. E lembra que na Rússia e na Hungria os vestígios do comunismo se tornaram um nicho turístico.
A 150 quilómetros a Oeste de Bucareste, na pequena cidade de Scornicesti, a casa natal de Ceausescu atrai também inúmeros turistas estrangeiros. Construído há uma centena de anos, sem electricidade, o edifício dispõe de três pequenas divisões: o quarto onde dormia Ceausescu, os seus oito irmãos e irmãs e os seus pais, a cozinha, com uma pequena mesa e vasos em argila e o quarto de hóspedes, decorado com fotografias dos pais e avós do dirigente.
Temporariamente encerrada, a casa deve reabrir ao público na Primavera, explica à AFP Emil Barbulescu, o sobrinho do ditador que, como vizinho, se ocupa da propriedade. O antigo chefe de departamento da temível polícia política de Ceausescu, a Securitate, sente saudades daquela época em que as pessoas, segundo ele, não se preocupavam com o dia de amanhã. “Nenhuma época histórica pode ser apagada”, diz Barbulescu. O sobrinho de Ceausescu tem como projecto construir uma estátua em memória do tio.
No resto do país, as antigas mansões oficiais do casal Ceausescu encontram-se também integradas em circuitos turísticos.
Em Bucareste, um restaurante chamado La Scanteia, como o jornal do antigo partido comunista, escolheu por seu lado brincar com a nostalgia com muros vermelhos, símbolos comunistas e pratos a lembrar os tempos de Ceausescu: simples, afinal a época era de penúria alimentar.

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