CDS: Um remake
Entre 2005 e 2007 fiz parte, com muito orgulho, da Comissão Executiva do CDS, sob a liderança de Ribeiro e Castro. Um homem extraordinário: de elevada probidade, competente e de bom espírito.
Não obstante a sua inequívoca vitória no Congresso da Junqueira, em abril de 2005 - uma disputa eleitoral marcante, para quem a pôde vivenciar -, não teve um dia de tranquilidade, já que, logo após esse triunfo, começaram as críticas de quem nunca quis aceitar os resultados eleitorais desse conclave. E por muito que tenha feito no sentido de unir o partido, juntamente com o seu inexcedível secretário-geral, Martim Borges de Freitas, nunca o conseguiu. Afinal, é impossível um consenso com quem só pensa em litigar... o resto é conhecido.
Volvidos 15 anos, eis que a mesma ala do CDS é vencida no Congresso de Aveiro, faz agora um ano. Nesse embate, Francisco Rodrigues dos Santos venceu e venceu bem: os congressistas deixaram claro que queriam uma nova liderança, uma afirmação desassombrada dos valores do CDS e novos protagonistas.
A história, infelizmente, repetiu-se: os mesmos que em 2005 enjeitaram os resultados do Congresso da Junqueira são aqueles que agora vituperam contra a liderança de Rodrigues dos Santos.
Esperar-se-ia que transcorridos 15 anos se registasse uma outra maturidade política ou que ao menos compreendessem que o CDS está a viver um período de concorrência no seu espetro político como nunca antes havia experienciado e, por conseguinte, evitassem complicar ainda mais a vida deste partido fundador da nossa democracia. No limite, que respeitassem quem, em nome do partido e a escassos meses de eleições autárquicas, já se encontra a fazer pontes com o parceiro natural do CDS, o PSD.
Nada disso: nem maturidade, nem compreensão, nem respeito. A palavra de ordem é criticar, para desgastar a liderança. E criticar, note-se, aproveitando o espaço mediático que granjearam à custa do partido...
Soluções, claro, nem vê-las. Sempre foi mais fácil destruir do que construir.
É evidente que as sondagens são negativas, mas é igualmente cristalino que o CDS, para além de já governar na Madeira, governa agora também nos Açores. Acresce que apoiou, e bem, a recandidatura vitoriosa de Marcelo Rebelo de Sousa. Por outras palavras, as lideranças, nos partidos como nas empresas, medem-se pelos seus resultados. Ora, até agora, os resultados desta liderança são, objetivamente, positivos. Qual é, então, o problema dos críticos? Querem um congresso em ambiente de pandemia - que tanto criticaram ao PCP - e a escassos meses de eleições autárquicas? Não querem esperar pelo menos pelos resultados dessas eleições para fazerem uma avaliação mais criteriosa dos méritos ou deméritos desta direção? O que receiam? Um outro bom resultado?
Talvez seja estultícia, de momento, clamar por união no CDS, embora fosse este o melhor caminho. Não havendo essa possibilidade, venha então a clarificação, conquanto a legitimidade da atual liderança, eleita para um mandato de dois anos, seja insofismável.
Da minha parte, não há dúvidas: tudo o que me aproxima de Rodrigues dos Santos é o que me afasta de outros putativos candidatos, aliás responsáveis primeiros pelos tempos de dificuldades que o CDS atravessa.
Pedro Melo é advogado e vogal da Comissão Política Nacional do CDS/PP