CDS, ordem para reagrupar. PSD, tudo como dantes, quartel-general em Abrantes!

Publicado a
Atualizado a

CDS e PSD começaram agora a arrumar a casa depois das últimas eleições legislativas. Se o CDS o está a fazer de um modo rápido e eficaz com duas candidaturas à liderança já no terreno, personificadas em Nuno Melo e Miguel Mattos Chaves, já o mesmo não se pode dizer do PSD.

Rui Rio deixou de fazer parte da solução do PSD e passou a fazer parte do problema.

Depois de na noite das eleições ter manifestado de um modo enfático a sua intenção de abandonar a liderança laranja, Rui Rio dá hoje sinais erráticos do que tenciona fazer com o seu lugar de presidente do PSD.

Sem pressa de sair, Rui Rio arrasta, inexplicavelmente, o partido num registo de incerteza incapaz de iniciar um processo de discussão interna e encontrar uma liderança que dê jus ao que o PSD é, ou seja, o maior partido da oposição.

Ao longo dos últimos anos o exercício de oposição de Rui Rio traduziu-se numa quase permanente ausência de tomada de posição sobre algumas das atitudes e medidas do governo. No seu entendimento, fazer oposição responsável era "não levantar ondas", apresentar propostas em fóruns tantas vezes ausentes da lógica mediática, conhecidas apenas em pequenos universos, fora portanto dos holofotes das televisões e dos jornais. E, hoje, o que não está presente nas televisões e nos jornais não existe.

Ou seja, a juntar aos erros que foi cometendo, não teve uma consequente política de comunicação.

O PSD tem no futuro uma longa maratona política pela frente com eleições regionais, europeias e legislativas para enfrentar.

O país precisa com urgência de um eficaz partido da oposição, situação que não se coaduna com o "arrastar de pés" em que Rui Rio está a colocar o PSD.

Para quê esperar até ao verão pela clarificação? O que ganham os sociais-democratas com isso? Porquê deixar para as calendas uma clarificação que se quer de imediato como, aliás, está a fazer o CDS?

Em breve a aprovação das Grandes Opções do Plano e do Orçamento do Estado estarão na ordem do dia, sendo que o PSD os vai enfrentar com uma liderança que já não sabemos se é demissionária ou não. Que sentido faz tudo isto?

O PSD necessita, rapidamente, de fazer uma profunda análise dos seus erros, identificar os constrangimentos que o assombraram no exercício da oposição.

Precisa de encontrar uma liderança forte e determinada, que leve o partido a tentar a conquista do universo social da direita e do centro, evitando um crescimento das forças populistas como o Chega ou dos excessos liberais personificados na IL.

Precisa de um governo-sombra que acompanhe, milimetricamente, o futuro executivo de maioria absoluta de António Costa, que faça um escrutínio rigoroso e detalhado da aplicação do PRR.

A função do maior partido da oposição é de apresentar propostas credíveis, bem documentadas, detalhadas, tecnicamente irrepreensíveis, com informação nova, entendíveis por toda a população

O exercício de oposição se for convenientemente feito, dilui a eterna discussão se o partido deve ocupar o espaço do centro ou da direita. Tem de tentar ocupar todo esse espaço e a melhor maneira de o fazer é ter uma liderança forte que chegue aos portugueses, que o vejam como uma alternativa e não como um partido errático e incapaz de se encontrar a si próprio.

Só com essa alternativa credível pode aspirar conquistar o voto dos 3,2 milhões de pensionistas e 700 mil funcionários públicos que compõem uma parte considerável do tecido social português e são no fundo quem decide o resultado das eleições.

Claro que Rui Rio com o seu egoísmo político, a sua teimosia, e uma pretensa desculpa à volta de questões da "sua" dignidade, está a dificultar a vida aos sociais-democratas.

O que o PSD deveria pois fazer era libertar-se de Rui Rio de imediato e iniciar a tarefa que lhe foi entregue pelos portugueses que votaram nele, ou seja uma oposição visível e eficaz.

E os eventuais candidatos com expectativas à liderança do partido devem ter o desapego e a coragem de formalizarem as suas candidaturas, abandonarem posições dúbias e assumirem, na plenitude, as suas candidaturas.

O país precisa tanto de um governo forte como de uma oposição, igualmente, forte. E sem uma clarificação urgente na liderança do PSD isso não será possível.

Jornalista

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt