CDS – bom espírito
O score eleitoral do CDS nestas autárquicas foi bastante positivo: participação na governação de maior número de câmaras municipais (mais de 40) e, entre elas, oito capitais de distrito, incluindo Lisboa, Porto, Coimbra e Funchal; significativo aumento de autarcas e consequente ampliação da presença do CDS em todo o território nacional. Em poucas palavras: todos os objetivos fixados pela liderança foram alcançados.
Foi, por isso, com alguma surpresa que assisti, logo nos dias seguintes ao escrutínio, a um coro de críticas dos mesmos de sempre: a oposição interna profissional que, em boa verdade, nunca parou de desestabilizar o partido após ter perdido o Congresso de Aveiro.
Eis o que dizem estas pitonisas da desgraça: os resultados alcançados só foram possíveis porque o CDS fez muitas coligações; o CDS fragiliza a sua marca ao entrar nessas coligações; onde o CDS concorreu sozinho, o Chega prevaleceu; o número total de votos do CDS decresceu.
Sucede que esta narrativa é profundamente falaciosa e não resiste a dois minutos de ponderação. Desde logo, o CDS sempre fez coligações com o seu parceiro natural, o PSD, logo, não há aqui nada de novo. Acresce que o PSD só faz coligações com o CDS nos locais onde lhe reconhece valor e força para poder derrubar quem ocupa o poder nos diversos concelhos do país. Nem o PSD faz favores ao CDS nem o CDS ao PSD. É assim e tem lógica que assim seja. Ademais, o argumento da oposição militante raia mesmo o absurdo: então não é que muitos daqueles que criticam coligações apresentaram candidaturas em listas de coligação?!
Por outro lado, ressalta óbvio que o CDS fortalece a sua marca quando consegue eleger mais autarcas, pois que passam a ser os seus embaixadores nos inúmeros concelhos do país. É difícil perceber isto?...
É igualmente um sofisma dizer-se que o Chega ficou à frente do CDS nos concelhos e freguesias onde o CDS concorreu sozinho. Foi assim nuns casos, não foi noutros. Uma coisa é certa: nos 99 concelhos onde o CDS se apresentou sozinho teve mais vereadores do que o Chega, a IL e o PAN juntos. É, é isso mesmo... é fazer as contas.
Por último, o número de votos. É desonesto contabilizar apenas os votos do CDS nos tais 99 concelhos onde se apresentou a sufrágio sozinho. É evidente que têm de ser levados em conta os votos do CDS nas 135 coligações. Ora, se se atender à habitual chave de repartição (quatro votos para o PSD e um voto para o CDS), o saldo para o CDS é de cerca de 300 mil votos, aproximando-se dos 6% do total nacional.
Enfim, mesmo que só queiram ver os ângulos negativos, não é possível esconder o seguinte: muito mais câmaras governadas com a participação do CDS; muito mais autarcas; muito mais força no terreno. E isto, note-se bem, num contexto muito mais complicado do que em 2017, dado que surgiram dois novos partidos no espaço político do CDS.
Quer então dizer que está tudo bem? Não, nunca está tudo bem, menos ainda quando figuras gradas do partido usam o espaço mediático que granjearam à custa do CDS, para zurzir sistematicamente na sua liderança. Na minha terra isso tem um nome e não é bonito...
Dito isto, tudo indica que se abriu um novo ciclo político que terminará nas eleições legislativas, em 2023; senão mesmo antes.
Neste quadro, os líderes dos principais partidos da oposição tiveram a iniciativa de antecipar os seus congressos e fizeram bem.
No caso do CDS, Rodrigues dos Santos quer continuar a liderar e pretende preparar as eleições legislativas com tempo, aproveitando, de caminho, para refrescar o partido com os protagonistas e as ideias de que Portugal precisa para se desenvolver com vigor, numa virtuosa aliança entre a iniciativa privada, um Estado mais leve e uma sociedade mais justa. Todos são bem-vindos a colaborar neste desígnio. Mas há um requisito: bom espírito.
Advogado, vice-presidente do CDS-PP