O antigo primeiro-ministro e Presidente da República foi a grande surpresa do 41.° Congresso do PSD, chegando este sábado ao Complexo Municipal dos Desportos da Cidade de Almada poucos minutos antes das 20.00..A presença do antigo líder social-democrata foi anunciada pelo presidente da mesa do Congresso, Miguel de Albuquerque, pouco depois de outra antecessora de Luís Montenegro, ter sido alvo de uma enorme ovação ao sentar-se na primeira fila.."O congresso dá as calorosas boas-vindas ao antigo presidente e ao grande estadista do século XX Cavaco Silva que muito nos honra com a sua presença. A sua ação política é sempre uma inspiração para o presente e para o futuro", declarou Miguel Albuquerque..Cavaco Silva entrou no recinto ao lado de Luís Montenegro, que saiu do pavilhão para se lhe juntar, e com os congressistas sociais-democratas em êxtase, sentando-se ao lado de Manuela Ferreira Leite e do presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, que discursara minutos antes, terminando com o repto "vencemos o socialismo em Lisboa, venceremos o socialismo em Portugal"..No seu discurso de encerramento, Montenegro deixou palavras elogiosas a Cavaco Silva. "A sua visão, honestidade, sensibilidade social, vontade de dar às pessoas o instrumento de que precisam para atingir os seus sonhos nas suas vidas... Esse legado, essa marca, são uma referência e uma inspiração para o que vamos fazer em Portugal. Nós vamos estar à altura do seu legado nos próximos anos em Portugal", garantiu o presidente do PSD..Para Montenegro, Cavaco deixou o "maior e mais profundo legado de desenvolvimento que Portugal conheceu no pós-25 de Abril"..À saída do congresso, Cavaco Silva falou aos jornalistas. "Portugal precisa de uma mudança que traga uma nova esperança aos portugueses. Sem essa mudança será impossível melhorar as condições de vida das populações e impedir que os nossos jovens mais qualificados fujam para o estrangeiro. Cabe aos portugueses tomar a decisão nas próximas eleições. Não vim aqui para fazer comentários partidários, vim para ouvir o presidente do PSD. Há seis meses disse o que pensava da confiança política de Montenegro para gerir os destinos de Portugal. Não antecipo resultados de eleições, os portugueses com a sua sabedoria farão a sua escolha", referiu..A última vez que Cavaco Silva tinha ido a um congresso social-democrata foi em 1995, ano em que abandonou a liderança do PSD para se candidatar a Presidente da República.Foi no 37.º Congresso, que decorreu entre 17 e 18 de fevereiro daquele ano no Coliseu dos Recreios em Lisboa..O presidente do PSD, no discurso de encerramento, afirmou ainda que António Costa e os candidatos à sua sucessão são "farinha do mesmo saco" e querem aparecer na campanha eleitoral como vítimas, quando foram "do núcleo duro disto tudo".."Não viram, não leram, não sabiam, não se aperceberam, a culpa há de ser da direita, a culpa há de ser do Passos, de vez em quando a culpa até há de ser do Cavaco", afirmou Luís Montenegro, provocando risos e aplausos no Congresso do PSD..Na sua segunda intervenção perante os congressistas, o líder social-democrata considerou que António Costa e os candidatos à sucessão no PS Pedro Nuno Santos e José Luís Carneiro - que não nomeou -- foram "do núcleo duro disto tudo nos últimos oito anos"."Podem vir agora uns com falinhas mais mansas, outros com megafone em punho, mas como diz o adágio popular são tudo farinha do mesmo saco", acusou..Montenegro antecipou que, na campanha, o PS vai querer aparecer como vítima da crise política, apesar de ser "a terceira vez que conduz Portugal a uma situação pantanosa".."As vítimas são os portugueses carregados de problemas nas suas vidas quotidianas", disse..O presidente do PSD admitiu que os portugueses esperam mais de si do que foi capaz de mostrar até agora, mas prometeu estar à altura do legado de Cavaco Silva, que assistiu ao encerramento do Congresso..Na segunda intervenção perante o 41.º Congresso do PSD, Luís Montenegro deixou, no final, uma nota mais pessoal, e assegurou estar "cada vez mais entusiasmado, cada vez mais firme" no caminho que falta para as legislativas antecipadas de 10 de março.."Também sei que as pessoas esperam mais de mim do que aquilo que eu fui capaz de mostrar até agora. Quero dizer-vos, olhos nos olhos, eu tenho noção disso", afirmou, numa passagem muito aplaudida do seu discurso..Luís Montenegro assegurou que irá "dar mais" - diz que já ter visitado 258 concelhos do país - e que tem ouvido muitas pessoas para "poder decidir bem".."Eu ouço mesmo as pessoas, tenho ouvido algumas que me dizem que devo ser mais enérgico, mais acutilante, aquele líder parlamentar que elas têm na memória. Também tenho outros que me pedem mais contenção e me dizem que nem tudo está mal", afirmou..Dizendo respeitar todos, Montenegro assegurou que vai continuar a ser "combativo, mas ao mesmo tempo sensato, firme e moderado".."Eu sei que sou muito obstinado nas missões que abraço mas também vos quero dizer: tento ser sempre o mais justo possível, sou sempre honesto, solidário e humano", afirmou.."Vamos ao trabalho, vamos para as ruas", disse..O presidente do PSD, no seu discurso de encerramento, afirmou que os socialistas são "os cristãos novos do equilíbrio das contas públicas", que considera ter sido conseguido à custa de mais impostos e de "engavetar investimento" nos serviços públicos..Luís Montenegro antecipou que, na sequência de anúncios do partido na área fiscal e social, já está a antecipar críticas de que o PSD "prometeu tudo a todos" ou que vai fazer o contrário do que quando foi Governo, no período da 'troika'.."Quando esses cristãos novos nos vierem dizer isso, convém dizer que as contas equilibrados para o PSD são um pressuposto, uma condição da política pública, não o fim das políticas públicas", frisou..Montenegro continuou na comparação com a religião, dizendo que "como normalmente acontece aos que não professam determinada fé até uma fase tardia, depois são mais fanáticos".."Foi isso que o PS foi. As contas públicas portuguesas estão equilibradas sobretudo à custa de mais impostos e de engavetar os investimentos que eram necessários nos principais serviços públicos em Portugal", criticou, dizendo que, nesta matéria, os sociais-democratas "não são cristãos novos, mas cristãos por convicção"..Na sua intervenção, de cerca de 40 minutos, que foi sendo bastante aplaudida, até de pé, Montenegro recuperou o que defende em matéria de imigração e que considera distinguir-se dos restantes partidos.."Nem podemos ter nem a porta escancarada, nem a porta fechada à chave", defendeu, reiterando como "bom caminho" atrair jovens estudantes estrangeiros e agregados familiares completos..O presidente do PSD insistiu na intenção do partido em regulamentar a atividade do lobbying e de tentar criminalizar o enriquecimento ilícito, como formas de combate à corrupção.."E temos sobretudo de ser nós a dar o exemplo de exigência ética no exercício de cargos públicos", afirmou..Montenegro voltou também à ideia de aproveitar as capacidades dos setores públicos, privado e social em várias áreas, considerando que a visão que coloca o Estado contra as empresas "é uma visão tacanha que leva invariavelmente à pobreza e ao insucesso".."Há partidos políticos que veem fantasmas e não percebem o essencial, as empresas e instituições sociais são nossas, da sociedade, são um património da coletividade e não um ente estranho", frisou..Montenegro parafraseou o cantor e compositor Pedro Abrunhosa numa mensagem de mobilização para as eleições antecipadas de 10 de março.."Nós só ganharemos - e vamos mesmo ganhar - por aquilo que vamos ser capazes de fazer e não apenas por aquilo que os outros não fizeram. Como diria um grande artista português, este é o momento para fazer o que ainda não foi feito", disse.