Catroga: "Os partidos no governo tendem a ser conservadores para manter o poder"
"Os partidos, seja o socialista, seja outro qualquer, no meu raciocínio, quando estão muito tempo no governo tendem a ser conservadores para manter o poder e, portanto, no fundo não estão a fazer reformas para o país, que são determinantes para o aumento do crescimento económico, a prazo, e para deixarmos de caminhar para a cauda da Europa."
A afirmação parte de Eduardo Catroga, antigo ministro das Finanças dos governos de Cavaco Silva que acaba de ser homenageado, esta terça-feira, 27 de junho, Economista Emérito pela Ordem dos Economistas.
Reiterando o que já havia afirmado no seu discurso durante a cerimónia da sua homenagem - que é independente e que não tem cor política - Eduardo Catroga voltou a frisar que é independente e não tem cor política, mas voltou a sublinhar esta ideia que já por várias vezes havia referida em entrevista.
O antigo ministro foi mesmo mais longe e acrescentou perentoriamente que Portugal tem todas as condições para ter crescimento económico e não caminhar para a cauda da Europa.
Para o economista - a quem, na cerimónia de homenagem, Aníbal Cavaco Silva classificou no seu discurso de elogio profissional como "um dos melhores ministros das Finanças do Portugal democrático" - o país está com "os cofres do Estado cheios em consequência da inflação e de uma carga fiscal asfixiante sobre as famílias e sobre as empresas" e, além disso, "Portugal tem fundos estruturais como nunca houve na Economia Portuguesa". "Agora, temos é de ter ambição e fazer políticas adequadas à produtividade e ao emprego", disse.
Com um rasgo de humor, e voltando à questão de os governos só estarem preocupados em proteger o poder, Eduardo Catroga referiu que, se fosse futebol talvez alguém andasse preocupado, mas que, fora isso, não vê ninguém preocupado com o facto de Portugal estar a caminhar para a cauda da Europa, em juntar-se ao pelotão da frente, em termos de prosperidade económica e social".
O economista que foi estudante brilhante do ISEG (na altura ISCEF), professor-assistente, professor catedrático e professor de doutoramento, diz qual a receita para tirar o país do marasmo económico em que se encontra.
"É essa visão reformista que eu defendo", avançou, "a minha visão estratégica, como economista, é esta, ligando as políticas de curto prazo, às políticas de médio e longo prazo para melhorar a produtividade e a competitividade, quer no setor público empresarial, quer aumentando o valor acrescentado das exportações.
E continuou com a sua receita: "Portanto, Portugal já tem empresas de sucesso em todos os setores da economia. O nosso grande problema é que temos de multiplicar por dois ou três o número de casos de sucesso. E precisamos, nas políticas, de considerar as empresas face à atividade económicas"
Para o antigo ministro das Finanças, são elas a fonte do rendimento das famílias e do próprio Estado. Catroga lamentou que muitas vezes as empresas fossem "vilipendiadas", porque, sobretudo as de grande dimensão são o "motor do crescimento", afirmou. E disse mesmo que, se para o país progredir, "as pequenas e médias empresas têm de se transformar em grandes".
"Portanto, o país tem de interiorizar que pode criar mais riqueza com base em políticas viradas para incentivos para desenvolver a inovação o aumento da dimensão das empresas e a penetração no mercado externo".