Catarina Martins: Ataques à aliança PSD/Chega encerram convenção

Mais fraca internamente, com a direção a perder 20 pontos percentuais na representação na Mesa Nacional para a oposição interna, Catarina Martins encerrou a XII Convenção do BE com duros ataques ao PSD e à sua "escolha vertiginosa" de se aproximar do Chega.
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Catarina Martins, coordenadora do Bloco de Esquerda, abriu sábado a XII Convenção Nacional do BE em Matosinhos com fortes ataques ao Governo e ao PS - e hoje encerrou a reunião preferindo criticar duramente o PSD e a extrema-direita representada no Chega.

Para a líder bloquista, o PSD de Rui Rio fez uma "escolha vertiginosa": "Quer levar a extrema-direita para o governo e, por isso, perdeu capacidade de disputar o centro ao PS".

Ou seja: "O PSD já não sabe fazer de outra forma e não se atreve sequer a pensar nisso. O PSD é um fantasma que só vibra quando alguém grita "morte ao socialismo'".

E prosseguiu: "Nesse mundo novo, o PSD não hesita em caminhar para uma aliança com a extrema-direita, que aliás é um braço laranja que se destacou mas cujo futuro só depende de influenciar o seu antigo partido". E "já há gente do PSD a gritar que quer exterminar o Bloco [Suzana Garcia, a candidata do PSD na Amadora]". "A força da esquerda gera do outro lado adversários raivosos, o nosso povo já conhece bem este filme", disse ainda.

Citaçãocitacao"Não transigimos, não recuamos, não cedemos na defesa do respeito e da liberdade, não voltamos atrás na luta pelo emprego e pela saúde, pelo salário e pela pensão. Ouçam-nos bem: saúde e emprego, salário e pensão, é assim que vai ser."

Portanto, "o Bloco é e será a barreira contra a direita e a extrema-direita". "Na direita e na extrema-direita, eles que falem da sua zanga contra quem trabalha, contra a mulher, contra o imigrante" - que o Bloco, pelo seu lado, mostrará "respeito pelas pessoas e de como melhorar os salários e pensões". "Eles escolhem o pântano, nós usamos a transparência. Eles dedicam-se ao seu próprio poder contra toda a gente, nós dedicamo-nos a quem precisa, a quem tem sido esquecido e silenciado, ao povo que sofre."

Quanto ao caminho a seguir, "só há portanto uma forma de continuar a vencer esta direita tingida de extrema-direita: que a esquerda lute pela maioria, que nunca se desvie da obrigação de ser a voz e a força do povo".

"À esquerda, essa desistência da direita coloca ainda maiores responsabilidades: toda a política nacional será determinada pela força da esquerda para conseguir as soluções para o país", argumenta. Quanto ao Bloco, especificamente, será assim:: "Não transigimos, não recuamos, não cedemos na defesa do respeito e da liberdade, não voltamos atrás na luta pelo emprego e pela saúde, pelo salário e pela pensão. Ouçam-nos bem: saúde e emprego, salário e pensão, é assim que vai ser."

A líder bloquista centrou o seu discurso em ataques ao PSD e ao Chega mas não deixou de, novamente, visar os socialistas, pondo na mesa o caderno de encargos do partido para o próximo Orçamento do Estado (OE2022).

O caderno de encargos parece ser o mesmo do ano passado - ou seja, o caderno de encargos que os socialistas recusaram e que levaram o BE a votar contra o OE2021 (o que está em vigor).

- Reforço de pessoal no SNS e melhorias nas carreiras profissionais

- Revogar tudo o que a troika pôs nas leis laborais (por exemplo: a diminuição das indemnizações por despedimento).

- Reforçar os apoios sociais às camadas mais desfavorecidas da população:

- Impedir mais financiamento público do Novo Banco.

Contudo, pareceu acrescentar outras exigências: "Na habitação, o Governo desistiu de cumprir as 26 mil casas prometidas até 2024". Ou seja: "Nós não desistimos do plano de investimento que apresentámos ao país: 150 mil casas para um parque público habitacional com uma dimensão suficiente não apenas para responder a quem está mais vulneráveis mas também para regular o mercado e garantir casas a preços justos."

A líder bloquista afirmou, por outro lado, que o BE não se esqueceu da promessa que o Governo fez de voltar a aumentar os escalões do IRS (desonerando os rendimentos mais baixos e reforçando a tributação dos mais ricos). Neste aspeto, deixou um aviso: "Vamos ouvir de tudo: que não há fortunas, que são as vossas manias, que no melhor dos casos os ladrões são pilha-galinhas e os poderosos uns pés descalços. Não foi o que se viu no Novo Banco, há quem peça e gaste 500 milhões como nós tomamos um café e, ainda por cima, diga que somos nós que temos que pagar a conta."

E no capítulo do combate às alterações climáticas são necessárias medidas "mais difíceis", como "tirar o tráfego automóvel do centro das cidades" e "acabar com o avião nas curtas e médias distâncias". Em síntese: "Não aceitamos que se finja que serão alcançados objetivos tão exigentes através de pequenos passos e coisas de nada."

Ainda no que toca a leis laborais, prometeu que o BE avançará com "legislação forte para responsabilizar os donos das explorações agrícolas ou das obras, bem como os donos das terras, pelos crimes contra os trabalhadores".

E isto, sublinhou, "é só o começo: repor os direitos contra o despedimento, combater o trabalho temporário, garantir contrato efectivo contra a precariedade, recuperar carreiras no público como no privado. Se a urgência é o emprego - e sabemos que é - cuidar da qualidade do emprego é a primeira medida para sair da crise."

Na ótica da líder, a campanha para as eleições que deverão ocorrer em setembro ou outubro "começa já com novos patamares de exigência graças a esse trabalho, graças ao trabalho de autarcas do Bloco espalhados por todo o país".

E pediu "a quem duvidar da importância do Bloco nas autárquicas" que veja o que o partido fez "com 7% na Câmara Municipal de Lisboa", município onde nas autárquicas de 2017 elegeu um vereador e firmou um acordo de governação da cidade com o PS.

"É difícil o combate autárquico? Difícil foi garantir manuais escolares gratuitos em toda a escolaridade obrigatória, medida que depois estendemos a todo o país. Difícil foi garantir refeições de qualidade, difícil foi aprovar planos plurianuais e impor concursos para atribuir apoios, trazendo transparência à política autárquica. Difícil foi tirar as salas de consumo vigiado do papel e concretizar o que está na lei há mais de 20 anos", salientou.

Concluíndo: "Difícil foi encontrar soluções para as pessoas sem abrigo e mudar a resposta, não discutimos hoje abertura de estações de metro mas abrigo que respeita e casas para quem precisa. É difícil, mas estamos a fazer."

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