Catar. Ostra feliz não faz pérola

Mala de viagem (36). Um retrato muito pessoal do Catar.
Publicado a
Atualizado a

O nome Catar, ou "Qatar", deriva de "Qatara". Acredita-se que seja uma referência à antiga cidade de Zubarah, um importante porto comercial e cidade da região. A palavra aparece pela primeira vez num mapa do mundo árabe de Ptolomeu. Naturalmente, usei outro na minha viagem. Esta teve o propósito de não só experienciar a verdadeira alucinação de investimento imobiliário e turístico nesta monarquia absoluta, mas também de me reunir com alunos e colegas docentes em turismo. Assim que se chega de avião e se sobrevoa a capital (Doha), salta à vista The Pearl, a pérola que é um complexo desenhado à imagem de um parque temático, que pode receber até 50 mil residentes. Esta é uma das loucuras do país mais rico do mundo. Uma espécie de pornografia urbana, ou não fora "The Pearl" o título da revista mensal pornográfica e clandestina publicada em Londres, durante o período vitoriano, entre julho de 1879 a dezembro de 1880. À parte esta coincidência, temos um dos projetos mais icónicos do Médio Oriente no que diz respeito ao imobiliário turístico, uma espécie de "Riviera Árabe". Mais tarde, estava eu junto da West Bay, um centro empresarial cosmopolita com arquitetura arrojada e um comércio que faz reluzentes as ruas, e pareceu-me estar num ambiente seguro e limpo, desejável para viver e trabalhar na cidade. Eu ia ao encontro de uma reunião de alunos de diferentes partes da Europa, que ali estavam para uma semana de contacto com o ensino do Catar. O Governo local pagou o evento, que também teve especialistas e docentes de alguns países europeus para assistirem e enriquecerem o debate. No Catar, as escolas públicas recebem financiamento do Governo, com grandes quantias de investimento direcionadas para o ensino superior, de forma a atrair talentos académicos e criar uma economia com base no conhecimento. Só a Biblioteca Nacional do Catar oferece acesso a mais de um milhão de livros e a valiosos documentos de arquivo e periódicos. As turmas são pequenas e o ensino é especializado. Incentiva-se a parceria entre universidades locais e estrangeiras. Há excelentes oportunidades de emprego nos setores da energia, das tecnologias, da construção e do turismo, por exemplo, com bons salários, isentos de impostos para imigrantes, quando estes são quadros técnicos. Só naquele grupo que se juntou para o debate sobre o futuro do turismo estava uma amostra culturalmente diversa, tal como é a sociedade deste país. O turismo é um pilar importante na "Visão Nacional do Catar 2030", para receber mais de seis milhões de visitantes por ano até 2030. Para conseguir isso, o país precisa de líderes para garantir que se torne num destino turístico visionário do futuro. Foi disso que tratámos numa das universidades do país (Al Rayyan International University College). A importância interdisciplinar foi o foco, permitindo que os gestores do turismo tenham um conjunto abrangente de proficiências. Será que este futuro contribuirá para eliminar discriminações laborais, ou servirá apenas para construir mais pérolas no Catar?

Jorge Mangorrinha, professor universitário e pós-doutorado em turismo, faz um ensaio de memória através de fragmentos de viagem realizadas por ar, mar e terra e por olhares, leituras e conversas, entre o sonho que se fez realidade e a realidade que se fez sonho. Viagens fascinantes que são descritas pelo único português que até à data colocou em palavras imaginativas o que sente por todos os países do mundo. Uma série para ler aqui, na edição digital do DN.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt