"O problema é dizer quais são os limites do diálogo e é óbvio que não podemos dialogar sobre o que não podemos dar. Espanha não pode reconhecer um processo de referendo de autodeterminação enquanto não se mudar a Constituição pelos procedimentos previstos na [própria] Constituição", afirmou o político espanhol à imprensa à margem de um debate em Lisboa sobre "A Questão Catalã".."Respeitando isso, é perfeitamente possível discutir todas as outras questões que nos preocupam", acrescentou..Para García Margallo, Espanha deve "atualizar os pactos constitucionais de 1978 para corrigir os defeitos originais de funcionamento e de soberania"..Uma tal reforma constitucional, explicou, seria "um primeiro passo para um processo reformista, de transparência e boa governação nas instituições, para acabar com o divórcio entre governantes e governados e [...] oferecer um futuro mais brilhante para os espanhóis, especialmente para os mais jovens"..No caso da Catalunha, defendeu, "não se trata de conceder privilégios" nem "consagrar direitos e liberdades políticas, económicas e sociais", mas atender àquilo que verdadeiramente preocupa os catalães.."Consagrar uma câmara territorial, clarificar o tema da língua, estabelecer os princípios básicos do financiamento autonómico, falar das infraestruturas, falar de tudo aquilo que realmente preocupa", exemplificou..Margallo, que chefiou a diplomacia espanhola entre 2011 e 2016, admite esse diálogo mesmo que os independentistas catalães vençam as eleições marcadas para 21 de dezembro, porque "são processos paralelos"..Insiste, constudo, que as autoridades regionais "têm de se movimentar dentro das competências do parlamento e nada mais"..O ex-ministro deu como exemplo a Escócia, onde o partido nacionalista escocês "venceu as eleições com uma maioria esmagadora e isso não lhe permitiu convocar um segundo referendo de autodeterminação sem a autorização de Westminster [parlamento britânico]"..Questionado sobre as razões do crescimento do sentimento independentista dos catalães, Margallo distinguiu aqueles "que são sentimentalmente independentistas", cujo peso não regista grandes flutuações, dos que o são devido ao discurso político dos partidos separatistas.."Houve um crescimento do separatismo como consequência da crise. O movimento dos Indignados cristalizou no Podemos nas outras Espanhas, e cristalizou no soberanismo na Catalunha, porque lhes foi dito que os sacrifícios que estavam a fazer se deviam a que grande parte dos impostos que pagavam era transferida para outras comunidades. Isso não é verdade", defendeu..No debate que antecedeu as declarações à imprensa, García Margallo falou de "uma certa deslealdade do separatismo catalão" nesta matéria e citou números da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) segundo os quais, em termos de despesa, "Espanha é o país mais descentralizado" de todos os que integram a organização. .Para o antigo ministro, não são de esperar processos semelhantes noutras regiões autónomas espanholas, até porque "está à vista" o efeito negativo na economia, a impreparação dos responsáveis separatistas e a falta de apoio internacional a processos realizados à margem da legalidade.."Se este processo doloroso que estamos a viver serviu para alguma coisa, foi para demonstrar que a independência não é possível", afirmou.."Não é possível porque exige controlo do território, pessoas e fronteiras, coisa que não aconteceu, e exige um reconhecimento internacional, coisa que não aconteceu", frisou.