Caso de morte de 'rapper' em segredo de justiça

A defesa do polícia que disparou pediu segredo para não prejudicar inquérito à morte de músico baleado
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A defesa do agente da PSP que baleou o rapper MC Snake numa perseguição policial, em Lisboa, pediu ao Ministério Público (MP) a sujeição do processo a segredo de justiça, para não prejudicar a investigação do caso.

De acordo com Santos Oliveira, advogado do agente M., só assim será "possível garantir a mera análise dos factos" ocorridos na madrugada de 15 de Março. Segundo informações policiais prestadas na altura, Nuno Rodrigues, conhecido por MC Snake, terá desobedecido a uma ordem de paragem na zona das Docas, em Lisboa.

Foi depois perseguido por uma Equipa de Intervenção Rápida da PSP até à radial de Benfica, onde acabou baleado. O agente da PSP, de 28 anos, explicou na altura à PJ que disparou duas vezes para o ar e o terceiro disparo foi "inadvertido". O projéctil entrou na bagageira do carro em fuga e atingiu o condutor pelas costas.

A morte de MC Snake, como era conhecido no bairro de Chelas onde vivia, provocou grande celeuma. A família falou em racismo para justificar a morte. "É tudo muito estranho", reiterou ontem Jorge Rodrigues ao DN.

O próprio Bloco de Esquerda pediu esclarecimentos ao Ministério da Administração Interna sobre os disparos policiais e o crescente número de vítimas.

A PSP emitiu dois comunicados. Um primeiro, ao final do dia da ocorrência, explicava que o caso ia ser alvo de um inquérito. Num segundo comunicado à imprensa, dois dias depois, a PSP pormenorizava a formação que o agente que disparou frequentou - depois de notícias vindas a público em que o polícia alegava nunca ter disparado a arma que lhe fora atribuída, uma semi-automática Walther P99, de 9 mm.

Dentro da PSP o caso também levantou preocupações. Uma ordem interna para todas as esquadras pedia especial atenção para possíveis tumultos contra a polícia em bairros problemáticos. E foram accionadas medidas de segurança excepcionais.

A família de MC Snake pediu a todos os bairros tranquilidade. E não se verificou qualquer incidente ou ataque. Ainda assim, a defesa do agente-arguido no processo considera que todas as questões levantadas à volta do caso poderão prejudicar a fase de inquérito. E pediu o segredo de justiça.

A última revisão ao Código do Processo Penal veio consagrar a publicidade de todos os processos. No entanto, mediante requerimento do interessado, o MP pode determinar o segredo de justiça "quando entenda que a publicidade prejudica os direitos daqueles sujeitos ou participantes processuais", diz a lei.

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