Casa que era para ser do cineasta gerou mais de uma década de polémica
Concluída há 12 anos, a casa no Porto projetada para residência e museu do cineasta Manoel de Oliveira, que morreu hoje, nunca foi utilizada, continuando vazia e sem destino, depois das tentativas falhadas de venda por parte da câmara.
O realizador português Manoel de Oliveira morreu hoje aos 106 anos, no Porto e era o mais velho realizador do mundo em atividade.
Depois de 11 anos sem qualquer utilização, em 2014 o executivo da Câmara do Porto liderado pelo independente Rui Moreira decidiu vender, em hasta pública realizada em maio, as duas frações do edifício desenhado por Eduardo Souto Moura para acolher o espólio do cineasta Manoel de Oliveira, não tendo surgido nenhum comprador.
Fonte oficial da Câmara do Porto explicou hoje à agência Lusa que posteriormente, e nos termos da lei, a autarquia "tentou vender o imóvel 5% abaixo do preço da hasta pública, também sem sucesso", continuando "a casa vazia e a autarquia à procura de solução".
"A autarquia não considera que aquela seja a Casa Manoel de Oliveira, uma vez que nunca chegou a ter esse destino", acrescentou a mesma fonte oficial.
No dia em que a hasta pública ficou deserta, Rui Moreira afirmou hoje que o arquiteto Souto de Moura se mostrou disponível para redesenhar a parte habitacional da denominada Casa Manoel de Oliveira para tornar o edifício mais "apelativo".
Sobre este tema, a mesma fonte oficial da autarquia afirmou hoje que "até ao momento ainda não houve nenhum desenvolvimento prático sobre essa possibilidade".
Rui Moreira justificou a 22 de abril de 2014 a venda do equipamento com o facto de não fazer sentido "manter uma casa que nunca foi utilizada", recordando ser conhecido o projeto de construção de um edificado para Manoel de Oliveira em Serralves.
O projeto da casa na Foz foi lançado em 1998 e a obra ficou pronta apenas em 2003, ano em que a Câmara era já liderada pelo social-democrata Rui Rio, que derrotou o socialista Fernando Gomes nas eleições autárquicas de 2001.
Nunca foi formalizado um acordo com o realizador para o uso da casa e, em novembro de 2013, a Fundação de Serralves assinou um protocolo com a família de Manoel de Oliveira para instalar o espólio do cineasta no extremo nordeste do Parque de Serralves.
A utilização desta casa gerou mais de uma década de polémica, tendo, em 2007, Manoel de Oliveira - que tinha estado ausente na cerimónia de lançamento da primeira pedra em 2001 - responsabilizado a Câmara pelo fracasso da criação da sua casa-museu, acusando-a de não ter respondido à sua última proposta contratual, "de maio de 2005".
O cineasta garantiu então que esta casa não existia enquanto instituição porque o edifício foi construído sem estar formalizado um entendimento com a autarquia.
No final de 2009, a então ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, revelou que pretendia abrir no ano seguinte o polo da Cinemateca no Porto na Casa das Artes, manifestando vontade de que aquele espaço acolhesse o espólio de Manoel de Oliveira.
No entanto, já em 2011 o filho do realizador anunciou que se gorou, por falta de acordo, a hipótese de transferência do acervo cinematográfico de Manoel de Oliveira para o edifício construído pela Câmara e acrescentou nunca ter sido contactado sobre a instalação do espólio na Casa das Artes.
Em novembro de 2013, a Fundação de Serralves, a Secretaria de Estado da Cultura e o realizador Manoel de Oliveira assinaram um protocolo para a construção da Casa do Cinema - Manoel de Oliveira, espaço a localizar no extremo nordeste do Parque de Serralves, com um projeto do arquiteto Siza Vieira.