Cartaz alternativono Alto Minho

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Contra a maré de Agosto, que empurra tudo para o sul, rumam os melómanos ao Minho, uma vez mais, na ânsia de verem concertos que não constam de outros festivais de Verão. Paredes de Coura recebe hoje a trupe alienígena que, de há 15 anos a esta parte, traveste a pacata vila minhota em cidade pulsante. Depois do aquecer de motores, a partida "a sério" dá -se amanhã, e a corrida só acaba na próxima quarta-feira.


Como calçadeira, já a desoras - ou não se chamasse After Hours o palco que pisam -, há hoje Sizo, Devotchka, DJ Fra/Nitsa Club/Primavera Sound e Simian Mobile Disco. Um aperitivo, enquanto toda a gente se instala ali nas margens do Tabuão, a respirar fundo para o rock'n'roll. Oxalá não chova, pedem aqueles que, em 2004 e 2006, viram molhados os seus planos de desfrute. Mas os exemplos são poucos para que se possa falar de tradição, e as superstições ficam à porta do recinto.


A diferença do Heineken Paredes de Coura em relação a eventos congéneres nacionais tem a ver com música, paisagem e história, e não no sentido de "tem a ver com música - o resto é paisagem; o resto é história". Nada disso. Os três factores são indissociáveis quando se procura explicar o êxito improvável do festival (improvável por Agosto não combinar com Minho e porque as opções da Ritmos, entidade produtora do certame, não rimam com mainstream). Em 1993, quando um grupo de jovens courenses o fizeram surgir do nada queriam, sobretudo, dar um pontapé no complexo da interioridade e chamar boa música à terra, bandas portuguesas, primeiro, enquanto não houvesse dinheiro para mais, e estrangeiras, depois, se e só se a ideia de qualidade que pretendiam impor vingasse.


E vingou. Vingou, também, porque as condições naturais do espaço escolhido para o recinto são pouco menos que perfeitas. O anfiteatro verde que desemboca no palco principal parece feito de propósito, concorrendo para uma cumplicidade particular entre os festivaleiros. É aí que amanhã a acção se inicia, ao som dos New Young Pony Club, na noite que será sempre de Pete Doherty, o namorado/ex-namorado de Kate Moss, corra mal ou bem o concerto dos BabyShambles. É por ele, pelas suas idiossincrasias, pelos traços vivos do seu perfil junkie, que os flashes da imprensa salivam. E, aqui sim, o resto é paisagem.


Mas são muitos os motivos para se prever uma boa edição. Face ao arrojo do cartaz, onde os pesos realmente pesados são apenas Sonic Youth e Dinosaur Jr., a desilusão não se justifica. A surpresa sim. Architecture in Helsinki, Gogol Bordello, Spoon ou Sun- shine Underground têm tudo para se afirmar ao vivo, enquanto Cansei de Ser Sexy, New York Dolls e M.I.A. são apostas seguras.
Mão Morta, Blasted Mechanism e Linda Martini são os representantes lusos no palco mais apetecido. Nos outros, e há mais três, não falta produto nacional. Alternativo, sempre.

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