Carta aberta aos militantes socialistas

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No passado dia 16 de Novembro, escrevi na minha página do Facebook: "Não sou militante do PS. Se o fosse, o meu voto iria para José Luís Carneiro. É dele a frase politicamente mais importante dos últimos dias: "Se isso for necessário para impedir o partido de André Ventura de chegar ao poder, não excluo viabilizar um governo minoritário do PSD."

Esta frase, certamente inesperada, causou alarme nas hostes de Luís Montenegro. E então, numa manobra hábil mas que faz parte da cartilha, o PSD elegeu Pedro Nuno Santos como seu inimigo principal. Atacando este candidato, iria provocar, como provocou, um aglutinar de posições em defesa do ex-Ministro das Infraestruturas. O partido de Luís Montenegro quer ter Pedro Nuno Santos como adversário, pois sabe que é mais fácil ganhar-lhe do que a José Luís Carneiro. Como as sondagens vieram provar.

Depois das "embrulhadas" da TAP e do anúncio da localização do novo aeroporto (em que se adiantou abusivamente a uma decisão do primeiro-ministro), Pedro Nuno Santos foi obrigado a demitir-se. E, no entanto, a sua candidatura, quando anunciada, contagiou gente importante do PS e do seu aparelho, como se de repente passassem uma esponja sobre o comportamento recente do ex-Ministro. Ao que parece, o "esquerdismo" (a doença infantil do socialismo) assumido por Pedro Nuno Santos granjeou-lhe o apoio dos saudosos da "geringonça".

Só que a "geringonça", por mais que tenha sido positiva para a generalidade do povo português (e foi), cumpriu a sua função histórica e não é um fenómeno repetível em 2024, quando tudo aponta para uma subida acentuada do Chega e um quase empate técnico entre PS e PSD. E se o PSD ganhar por muito pouco (hipótese viável), a única maneira de não o entregar nos braços de André Ventura é deixá-lo governar em minoria. Como fez Marcelo Rebelo de Sousa ao governo de Guterres e como José Luis Carneiro se dispõe agora fazer.

Não ponho em causa as qualidades pessoais de Pedro Nuno Santos; mas é um homem do aparelho, que nunca contactou a "vida real". José Luís Carneiro, para além do seu currículo escolar, foi autarca durante três mandatos e conseguiu ser Ministro da Administração Interna sem que se falasse dele (caso raro, se não inédito, num cargo sempre exposto à crítica pública.) Além disso, não pertence à "bolha" de Lisboa -- aquilo a que o povo chama "sempre os mesmos" -- e tem capacidade para abrir o partido a novas figuras que tenham a ousadia de ser "moderadas", quando o país, face aos graves problemas estruturais que se mantêm, precisa de um acordo entre os grandes partidos que os permita encarar e resolver.

Ser "moderado" não é nenhum crime. Pelo contrário, é saber que o radicalismo não se combate com radicalismo e que há momentos em que os interesses superiores do País se têm de sobrepor aos jogos palacianos do poder.

Não sou militante do PS, repito. Se o fosse, o meu voto iria para José Luís Carneiro. Só com ele, o PS evitará o destruir de uma herança que tem em Mário Soares -- "homem de pontes, defensor de compromissos e de atitudes pragmáticas" -- o seu legítimo fundador.


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