Carro sem condutor já acelera pelas ruas da sagrada Jerusalém
Os ponteiros do conta-quilómetros apontam para os 70km à hora, quase 80, mas Shalom Mines não hesita em afastar ainda mais as mãos do volante do Audi - levanta-as mesmo -, mostrando até que ponto confia na tecnologia de condução autónoma da Mobileye. Quem também confia, de certeza, na empresa israelita são os americanos da Intel, que em meados do mês a compraram por 15,3 mil milhões de dólares, um negócio que o jornal Haaretz descreveu como "a aquisição mais valiosa da história do país".
Equipado com oito câmaras, que funcionam como sensores, o Audi avança pelas ruas de Jerusalém, sede da Mobileye. "Somos dez a 15 a ter autorização para conduzir estes carros no país", explica Mines, que continua com as mãos longe do volante, apesar de, mal entra num túnel, o automóvel mudar de faixa. As placas verdes com as direções, escritas em hebraico, árabe e inglês, vão passando, assim como os outros carros, que não se apercebem de quanto especial é este a não ser que notem as câmaras no exterior. Por dentro, a diferença é o tablet que mostra aquilo que os sensores detetam, com a zona verde a ser essencial, pois indica o espaço na estrada para onde o carro se pode desviar se houver um obstáculo.
São dezenas os construtores automóveis que trabalham com a Mobileye no projeto de um carro 100% autónomo, da americana Ford à japonesa Honda, passando pela alemã Audi. Mas o pioneiro deverá ser outra marca germânica, a BMW. "Contamos em 2021 ter o primeiro carro pronto a circular sem entraves. É um projeto conjunto com a BMW e a Intel", explica Lior Sethon, diretor de desenvolvimento da empresa israelita, fundada em 1999, em conversa com um grupo de jornalistas antes do test-drive.
[artigo:5723157]
"Um dia vão existir só carros autónomos. Aí será tudo mais fácil, sem o elemento humano. Mas numa primeira fase sabemos que os carros com sistema autónomo de condução vão ter de coexistir com o tradicional carro com condutor. E é nesse cenário que estamos a trabalhar", acrescenta Sethon, na sede da Mobileye, um edifício na típica pedra branca que é regra em Jerusalém. No fundo, os carros da Mobileye estão a ser ensinados não só a conhecer o terreno e a apreender as regras de trânsito como também a conhecer os comportamentos humanos, o instinto. "Se isso significa ensinar aos nossos carros o que é um condutor gentil e o que é um condutor agressivo? Sim".
Enquanto não chega 2021, a Mobileye (650 funcionários, em 48 países) faz negócio instalando sistemas de apoio à condução em todos os grandes construtores com exceção da Daimler e da Toyota. São sistemas que identificam desde os outros carros até aos peões e avisam de colisão eminente. E até travam o carro se o condutor não reagir. "É nisso que apostamos. Minimizar o erro humano. Afinal 93% dos acidentes são causados pelos condutores", diz Sethon. Outra forma de avaliar o impacto positivo do sistema de apoio da Mobileye é a poupança, pois em Israel o custo dos acidentes equivale a 1,2% do PIB. Para quem já tem carro, a empresa vende um kit ADAS que custa 950 dólares. De fábrica, são já 15 milhões os carros a nível mundial equipados com a tecnologia da Mobileye.
Mas para se chegar a 2021 e a Mobileye cumprir a promessa de apresentar um carro verdadeiramente autónomo ainda há muito trabalho de investigação e aperfeiçoamento tecnológico a fazer. "Temos 40 milhões de quilómetros de condução para analisar", sublinha o diretor de desenvolvimento da empresa fundada por Amnon Shashua, um cientista da Universidade Hebraica, e o empresário Ziv Aviram.
Em Jerusalém, Telavive e Haifa
O DN viajou a convite da EIPA - Associação de Imprensa Europa-Israel