Carreira docente: Um problema sem soluções simples…
Afirmar que ser professor é uma vocação e não uma profissão é um lugar-comum com décadas. Na realidade, pode afirmar-se que é dos poucos lugares-comuns que corresponde à verdade: os bons professores são aqueles que têm vocação para ensinar, para partilhar conhecimento e que realmente amam o que fazem e apaixonam os seus estudantes. Para o professor, cada aula é uma incógnita e uma descoberta, mas também um desafio exigente. No entanto, o prazer de fazer a diferença na vida de alguns estudantes e a riqueza de poder aprender com estes não tem preço. O grande salário do professor é aprender com os estudantes e ser ele próprio um eterno aprendiz.
Contudo, há décadas que os professores são socialmente desvalorizados e têm a sua carreira profissional estagnada, entre outros problemas que bem conhecemos. Como grupo profissional encontram-se também pouco motivados e assoberbados burocraticamente. É claro que a questão salarial, apesar de muito importante, não é essencial na atratividade da carreira docente, pois um professor apaixonado pelo que faz obtém a sua grande motivação da interação docente com os estudantes. Mais que tudo, os professores necessitam de ver restaurado o seu estatuto social e profissional que não se esgota na questão salarial e na progressão nas carreiras. Acima de tudo, importa devolver-lhes a autoestima profissional que lhes foi sonegada, por políticas educativas erradas e experimentais que os tornaram vítimas e alvo da desconfiança social.
A escola é a grande instituição que enferma de todos os problemas da sociedade portuguesa, pois agrega na sua comunidade estudantil a complexidade e as fragilidades da mesma. É na escola que se tornam visíveis muitas das carências sociais, culturais e económicas, pois os estudantes transportam para a sala de aula as suas realidades de origem. Face a esta realidade, atualmente os professores são detentores de competências que vão muito para além da pedagogia ou dos conhecimentos científicos, pois a escola do século XXI exige-lhes isso.
E como compaginar toda essa exigência e responsabilidade com a desvalorização social e salarial que enchem as páginas dos nossos jornais e abrem os nossos telejornais? Como procurar um equilíbrio entre legítimas aspirações de progressão na carreira e de um sistema avaliativo mais justo, com a crescente complexidade e importância da tarefa profissional e social que desempenham, num país com os constrangimentos socioeconómicos como o nosso? Perante a enorme carência de professores que temos em Portugal, como pode o Governo devolver a este grupo sócio profissional a valorização social a que tem direito, de modo a atrair mais jovens para a profissão?
Sabemos que não existem respostas simples nem soluções miraculosas. A resolução dos problemas sócio profissionais da classe docente terá de passar por um pacote de medidas complementares (salariais, reestruturação de carreiras, formativas, pacotes de benefícios variáveis, avaliação sustentada no mérito profissional, entre outras) que interligadas, reconstruam e valorizem a imagem social do professor.
Para que esta volte a ser uma profissão atrativa para os nossos jovens é necessário que a governação crie condições de trabalho e de formação ao longo da vida desafiantes e enriquecedoras. Um professor não pode ser um reprodutor dos programas e diretrizes da tutela, tem de ter a oportunidade de ser criativo, de reconstruir o seu percurso profissional e de requalificar-se ao longo do mesmo, de modo a poder recuperar o seu lugar de eterno aprendiz, admirado pelos seus estudantes e reconhecido pela sociedade.
Diretor da Escola de Educação e Desenvolvimento Humano do ISEC Lisboa