Carolina Duarte alerta para o valor da saúde mental no desporto português

Paratleta fala dos desafios de conciliar a maternidade e a vida desportiva, enquanto tenta alcançar a sua "melhor forma de sempre".
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Francis Obikwelu. Foi no momento em que o atleta de velocidade conquistou a Medalha de Prata nos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004, que Carolina Duarte decidiu mudar a sua vida. O atletismo passou a ser uma prioridade e, ao longo de quase 20 anos, conseguiu alcançar resultados notáveis para o desporto português.

Apesar de só ter 10% de visão, devido a um problema genético, Carolina Duarte é uma campeã a 100%. E fora do mundo do desporto, consegue ser uma inspiração através do seu carisma e história de vida de superação, tendo recebido uma longa ronda de aplausos durante a 8.ª edição das Conferências do Estoril.

"Experimentei todos os outros desportos, mas foi de facto o Francis Obikwelu que me fez ter o click e logo depois entrei no atletismo", começa por explicar ao DN.

Carolina não esconde que o atletismo é uma modalidade desafiante, que exige bastante controlo físico e mental. Com uma filha pequena, a atleta admite que atualmente o seu maior contratempo é conciliar a maternidade com os treinos e o descanso. "É uma missão quase impossível. É complicado conseguir fazer refeições a horas e cumprir rotina. É difícil, mas eu dou o meu melhor", frisa.

Nessa perspetiva, Carolina Duarte alerta para a necessidade de aumentar os apoios à saúde mental em Portugal, sobretudo para os atletas. "A saúde mental é agora, felizmente, muito falada e é sem dúvida um ponto-chave para o sucesso. Portugal ainda fica um pouco aquém no apoio à saúde mental da população em geral e dos atletas, mas, aos poucos, muitos desportistas já começam a ter ajuda nesse sentido", revela. Para a atleta, o apoio mental "é uma necessidade".

Contudo, a saúde mental não é o único desafio. Segundo Carolina Duarte, em Portugal também importa "perceber como é que o atletismo português há de chegar ao nível dos outros países que são superpotências".

Além disso, existe discrepância entre o tempo de treino e descanso, o que acaba por prejudicar alguns atletas: "Há muitos anos, havia o problema do doping, mas agora é tudo muito controlado. Esse problema já quase não existe. É mais uma questão do treino e da respetiva necessidade de recuperação. Cada vez mais se tem atenção a isso, mas Portugal ainda está um bocadinho no passado, no sentido em que o treino ainda é o principal foco. Ainda assim, estamos a ir num bom caminho", testemunha.

Todos os atletas de alta competição lutam diariamente para conseguir atingir a sua "melhor forma de sempre" e Carolina Duarte não é exceção.

Depois de ter conseguido obter a Medalha de Prata na prova dos 400 metros T13 (deficiência visual), nos Mundiais de Atletismo Paralímpico, que decorreram em Paris, em julho deste ano, o orgulho que sente é grande. "Consegui fazer o tempo mais rápido dos meus últimos 10 anos. Fiquei orgulhosa por ter conseguido manter o foco e a motivação. Não fui abaixo quando os treinos não estavam a correr bem, ou quando não conseguia treinar o tempo que queria e, por isso, correu tudo bem", explica.

Por existirem adversidades, Carolina Duarte admite que o atletismo "é um desporto muito exigente, não basta querer. É preciso ter muita força de vontade e abdicar de toda uma vida que não se pode ter, como por exemplo as saídas" com amigos ou família. Porém, "quando se está focado no propósito, aí tudo faz sentido no final", sublinha.

Para um futuro próximo, fica o objetivo de conquistar medalhas nos Jogos Paralímpicos de Verão de 2024.

ines.dias@dn.pt

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