Caro Bolsonaro
Este texto, por mais que o título o sugira, não é uma carta aberta ao pior presidente da República da histórica do Brasil -- "caro" não está aqui no sentido de "estimado" ou de "ilustre" mas sim no de "exorbitante" ou "astronómico".
É escrito com base em dados do Ministério das Relações Exteriores, garantidos pelo Portal da Transparência, e divulgados, após pedido via Lei de Acesso à Informação, no jornal Folha de S. Paulo. Jair Bolsonaro, cujo nome rima com "caro", já custou cerca de um milhão de reais [perto de 200 mil euros] desde que se evadiu do Brasil rumo a Orlando, nos Estados Unidos.
Diz a reportagem que o essencial do valor inclui diárias, hospedagens, aluguer de veículos e intérpretes, entre outras despesas, de quando Bolsonaro ainda era presidente, ou seja, de 28 a 31 de dezembro, quando a viagem começou. A outra parte refere-se ao pagamento aos assessores que ficaram com Bolsonaro após deixar a presidência, uma vez que, como não moram em Orlando, recebem diárias além dos respetivos salários.
A conta, de 950 mil reais, ultrapassaria os seis dígitos caso estivesse contemplado o voo de Brasília para a Flórida em avião da Força Aérea Brasileira.
Por outro lado, mesmo tendo viajado para o estrangeiro muito menos do que os antecessores -- o objetivo do ministro bolsonarista das Relações Exteriores brasileiro era, segundo o próprio, tornar o Brasil um pária -- gastou 75 milhões de reais [13,58 milhões de euros] em quatro anos de governo com o chamado cartão corporativo, conforme se soube depois de o atual governo ter levantado o sigilo de 100 anos imposto por Bolsonaro às próprias contas.
Por fim de semana, o insaciável Bolsonaro gastou uma média de 6230 reais [cerca de 1130 euros] só em alimentação. A 26 de maio de 2019, fez uma conta de 55,5 mil [10 mil euros] na Padaria Santa Marta. E a cada uma das 19 idas à lanchonete Tony e Thais gastou, em média, 5500 reais [1000 euros].
O ex-presidente também desembolsou cerca de 408 mil reais [74 mil euros] em peixarias e oito mil reais [1500 euros] em gelados, por exemplo.
As dezenas de motociatas, como foram apelidados os passeios de moto com os seus bovinos apoiantes para promover a imagem presidencial de cidade em cidade, custaram o preço médio de 100 mil reais [em torno de 18 mil euros], em hospedagem, alimentação ou segurança, já que cerca de 300 militares, polícias e socorristas acompanhavam o ex-presidente em cada passeio.
Hamilton Mourão, seu vice-presidente, é outro glutão: mesmo tendo direito, pelo cargo, a palácio e chef, gastou 3,1 milhões de reais [560 mil euros] em hospedagem e alimentação, incluindo mercados gourmet, talhos exclusivos, boutiques de pão, lojas de luxo de chocolate, bufês em viagens de avião e uma almoçarada no Gambrinus, em Lisboa.
Em quatro anos, gastou mais do que o antecessor Michel Temer em seis, dois dos quais na presidência.
Na prática do exercício dos cargos, o capitão e o general rasgaram o discurso de austeridade que proclamavam na teoria das campanhas eleitorais.
Não é de estranhar porque, durante a farra do bolsonarismo, as forças armadas consumiram fortunas em picanha, salmão, champanhe, whisky, botox, produtos contra a calvície, Viagra e próteses penianas como se soube via a abençoada Lei de Acesso à Informação. Parabéns, caro Bolsonaro.
Jornalista, correspondente em São Paulo