Carne fora de prazo financiou partidos, diz polícia brasileira

Maiores armazéns do país - e do mundo - usaram produtos cancerígenos para maquilhar mercadoria vendida para o mercado interno e de exportação com a cumplicidade de inspetores sanitários.
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A Operação Carne Fraca, que mobilizou hoje de manhã 1100 agentes da polícia federal brasileira e prendeu mais de 100 pessoas, investiga há dois anos caso de adulteração de produtos para o mercado interno e de exportação com a cumplicidade de inspetores sanitários corrompidos. Estes passavam parte do suborno a partidos, como por exemplo o PMDB do presidente da República Michel Temer, disse um delegado de polícia em conferência de imprensa. O atual ministro da Justiça pode estar envolvido.

Depois de dois anos de investigações, gravações obtidas pela polícia indicam que as maiores empresas de processamento de carne do Brasil, e do Mundo, no caso da JBS e da BRF Brasil, vendiam carne com data de validade vencida e adulterada por produtos químicos, alguns cancerígenos, para o mercado brasileiro, incluindo refeições escolares, e para o mercado de exportação - foram encontrados casos de inserção de papelão em frangos e de carne de cabeça de porco em lotes de linguiça, por exemplo.

"Eles usavam ácidos e outros produtos químicos para poder maquilhar o aspeto físico do alimento. Usavam determinados produtos cancerígenos em alguns casos para poder maquiar as características físicas do produto estragado, como o cheiro", disse Maurício Grillo, delegado à frente da Carne Fraca.

Segundo a polícia, os donos e os principais diretores dessas empresas estão envolvidos na fraude, assim como funcionários do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento pagos para fazerem vista grossa nas inspeções. "O envolvimento do Ministério da Agricultura é estarrecedor", afirmou Marcos Josegrei, outro delegado.

Esses funcionários repartiam parte dos subornos para o PMDB, principal partido do governo, e para o PP, um dos seus aliados no executivo, provavelmente para agradecer por cargos de indicação política, afirmou Grillo. Não foram fornecidos nomes de políticos envolvidos no esquema mas o recém empossado ministro da Justiça Osmar Serraglio, do PMDB, foi ouvido numa das gravações suspeitas a conversar com o suposto líder do esquema criminoso chamando-o de "grande chefe".

Os partidos políticos não se pronunciaram. A BRF, cujas ações caíram oito pontos ontem, também não. A JBS, com queda bolsista similar, emitiu nota: "A JBS e suas subsidiárias atuam em absoluto cumprimento de todas as normas regulatórias em relação à produção e a comercialização de alimentos no país e no exterior e apoia as ações que visam punir o descumprimento de tais normas".

*Em São Paulo

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