CARNAVAL TEM DE TER POLÉMICA

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Controvérsias várias marcam a festa de 2008

Festa popular de dimensão internacional, o Carnaval do Rio é sempre sujeito a polémicas - que na verdade o engrandecem. Várias vezes, a Igreja Católica pediu - ou exigiu, judicialmente - a retirada de imagens de Cristo ou de santos. Em 2004, o carnavalesco Joãozinho Trinta inovou na Viradouros, ao não retirar um carro proibido com posições sexuais do Kamasutra, mas tapando-o com plástico preto acrescido da faixa: "Censurado". O carro foi mais fotografado e comentado do que qualquer bela mulher ou bom sambista.

Trinta é o inventor da frase: "O povo gosta de luxo; quem gosta de miséria, é intelectual". Ele parece ter mudado de opinião, e, em 1989, na Beija-Flor, encheu o desfile de mendigos, com o enredo " Ratos e Urubus, Larguem a Minha Fantasia" - o que gerou nova e grande discussão. Pela primeira vez, o desfile mostrou trajes velhos e pessoas sujas e com aparência faminta.

Este ano, a maior polémica ficou por conta da escola Viradouro, com o enredo " É de arrepiar". Entre as tragédias da humanidade, a escola anunciou que iria mostrar o Holocausto. A comunidade judaica teve acesso às oficinas e mostrou temor de que a visão do holocausto fosse mais espectacular do que triste e pediu a interdição do carro. Descobriu-se ainda que, além do holocausto, desfilariam figurantes com máscaras de Adolf Hitler.

Após momentos de tensão, com a participação da Fundação Simon Wiesenthal, a Federação Israelita obteve decisão judicial para que o carro não fosse mostrado, muito menos com a imagem de Hitler. E quem deu a ordem foi a juíza Juliana Kalichszteim. Caso não cumpra a decisão, a escola terá de pagar 70 mil euros no caso de o carro alegórico sair exibindo a parte proibida e 20 mil euros por cada integrante que desfile vestido de Hitler. Para a juíza, a análise dos fatos e a documentação apresentada constando fotografia do referido carro justificam a medida: "Um evento de tal magnitude não deve ser utilizado como ferramenta de culto ao ódio, de qualquer forma de racismo, além da clara banalização dos eventos bárbaros e injustificados praticados contra as minorias, especialmente cerca de seis milhões de judeus (diga-se, muitos ainda vivos) liderados por figura execrável chamada Adolf Hitler", afirmou a magistrada na decisão. A escola decidiu colocar, em substituição, um carro sobre a liberdade de expressão...

Outros sério problema do Carnaval é a crise na polícia da região. O comandante da Polícia Militar, Ubiratan Ângelo, foi demitido e, com ele, solidarizaram-se 45 oficiais. O novo comandante é Gilson Pitta. O sindicato da Polícia Militar pediu a saída do secretário de Segurança, José Beltrame, o que irritou o governador do Rio, Sérgio Cabral. As autoridades garantem que a ordem será mantida, esperando-se não ser necessário ter-se de colocar um oficial do Exército nessas funções, o que desagradaria à Polícia Militar. A Secretaria de Segurança está acima das polícias civil e militar.

Uma terceira polémica marca o Carnaval brasileiro. No Recife, a prefeitura, com apoio do Ministério da Saúde quer distribuir pílulas anticonceptivas, chamadas de " pílulas do dia seguinte", durante os festejos, mas a Igreja condena a decisão, considerando-a uma medida abortiva.

De volta às matérias políticas, em Salvador da Baía uma denúncia de racismo está a colocar a comunidade negra e prefeitura em campos opostos. O prefeito proibiu a divulgação de um relatório do Observatório Racial em que se denuncia actos de racismo contra negros na grande festa. O prefeito, Gilmar Santiago, diz que não é assim e que os resultados foram tornados públicos.

O Observatório está particularmente activo no período do Carnaval para ajudar mulheres alvo de violências e outras pessoas que possam agredidas ou discriminadas.

A comunidade negra do Salvador critica ainda o alinhamento dos desfiles, dizendo que os seus grupos só desfilam nas piores horas dos festejos.

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