A eleição de duas presidentes da câmara alternativas e progressistas, oriundas de movimentos de esquerda, para liderar as duas principais cidades espanholas marcou as municipais de 2015. Quatro anos depois, houve conquistas e fiascos tanto em Madrid como em Barcelona, e ambas procuraram a reeleição. Mas Manuela Carmena e Ada Colau terão destinos diferentes: a primeira despede-se da capital, a segunda vai conquistar um novo mandato na cidade catalã..Num cenário político cada vez mais fragmentado, que obriga a negociações complexas, Carmena venceu mas não com força suficiente para evitar uma maioria de direita em Madrid. O acordo entre PP, Ciudadanos e Vox está contudo ainda a ser negociado nesta sexta-feira, véspera do pleno de investidura (a partir das 10.00 de Lisboa). Se falhar, abrirá as portas a um segundo mandato de Carmena. Já Colau perdeu para os independentistas da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) por menos de cinco mil votos, mas graças a uma aliança com os socialistas e com o aval de Manuel Valls (apoiado pelo Ciudadanos) deverá conseguir (salvo surpresas) mais quatro anos na câmara de Barcelona na investidura marcada a partir das 16.00 de Lisboa..Madrid.Carmena fez as contas logo na noite de 26 de maio. Apesar de ter ganho, conquistando 19 vereadores, a esquerda não tinha eleito representantes suficientes (socialistas elegeram oito) para fazer face à direita unida de PP (15), Ciudadanos (11) e Vox (quatro). "Já sei que não vou continuar a ser presidente, queria agradecer a todos os madrilenos o apoio", afirmou, dizendo que aos 75 anos não pretendia ficar na oposição. Dias depois, voltou atrás e anunciou que ia à investidura, visto que se não houver acordo à direita acabará eleita por ter o maior número de vereadores..De facto, as negociações não foram tão fáceis como as contas deixariam prever. O problema é a partilha de poder entre PP e Ciudadanos. Os populares, cuja candidatura foi liderada por José Luis Martínez-Almeida, tiveram o pior resultado de sempre em Madrid, ficando ainda assim à frente do partido laranja e de Begoña Villacís. Esta não parecia querer contentar-se em ser número dois da autarquia, defendendo um mandato dividido, em que um assumia o poder durante dois anos e o outro nos dois anos seguintes. Ideia que o PP recusou. Ao Ciudadanos também não agrada a aliança com a extrema-direita, que lembrou: "Se alguém quer formar um governo deixando o Vox de lado, não vai conseguir.".Certo é que a saída de Carmena representará um retrocesso em relação a algumas das políticas que aplicou. Uma das mais mediáticas é a Madrid Central, que desde novembro proíbe a circulação de carros (exceto de residentes) no centro da cidade, com o objetivo de reduzir a poluição. A direita já disse que quer alterar isso. Outro ponto alto do balanço do mandato de Carmena é a redução da dívida da cidade para mais de metade. Como promessa falhada está contudo a resolução do problema da habitação e das rendas altas..Barcelona.Colau recebeu um balde de água fria na noite eleitoral, ao ficar em segundo lugar nas municipais. Apesar de ter o mesmo número de vereadores (dez) do que os independentistas da ERC, que há quatro anos tinham votado a seu favor, perdia a liderança na hora de negociar. Colau defendeu sempre liderar um governo tripartido, que incluísse ERC e os socialistas, mas nenhum deles aceitou essa hipótese..Para a ERC, a solução passa por ficar à frente da câmara o seu candidato, Ernest Maragall, com o apoio de Colau (e o aval dos cinco vereadores independentistas do Junts per Catalunya). À última hora, propuseram a solução de liderarem o governo durante dois anos, e Colau outros dois. Já os socialistas (têm oito vereadores) aceitam Colau como líder de uma coligação, apesar de no seu primeiro mandato a parceria não ter resultado e terem sido expulsos do executivo camarário, mas não querem partilhar o espaço com os independentistas. Para ter a maioria, contariam com o voto de três dos seis vereadores eleitos pela plataforma de Valls, que garantiu o seu apoio sem exigir nada em troca (indo contra o Ciudadanos). Num referendo online, 71,4% dos militantes (a participação foi de 40%) optaram pela segunda opção..Na hora de balanço, fica claro que as dificuldades de governar em minoria marcaram a gestão da cidade, assim como o processo independentista. Entre as promessas que ficaram por cumprir encontram-se várias a nível de transportes, assim como de habitação, havendo ainda queixas de insegurança. Na luta contra o turismo massificado, Colau proibiu novos hotéis numa grande área (muitos casos estão em tribunal), mas teve sucesso a travar os alugueres de apartamentos a turistas.