Carlos Costa termina mandato amanhã. Centeno enfrenta deputados no Parlamento

Governador do Banco de Portugal sai de cena nesta quarta-feira depois de uma década de liderança polémica. No mesmo dia, o ex-ministro das Finanças que lhe vai suceder é escrutinado no Parlamento.
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Carlos Costa abandona oficialmente o cargo de governador do Banco de Portugal amanhã, dia 8, confirma fonte oficial do banco central ao DN/Dinheiro Vivo. Costa sai dez anos depois da tomada de posse para um primeiro mandato, no verão de 2010, mas já mostrou disponibilidade para se manter em funções até que o seu sucessor seja designado.

Mário Centeno é o senhor que se segue e marca presença nesse mesmo dia na Comissão de Orçamento e Finanças, no Parlamento. O ex-ministro das Finanças vai ser ouvido pelos deputados no âmbito da proposta de designação para o cargo de governador. A nomeação tem estado envolta em polémica, já que Centeno deixou a pasta das Finanças mais cedo a tempo de substituir Carlos Costa, levantando reservas sobre a garantia de independência do supervisor financeiro face ao governo. Mas António Costa estendeu-lhe a passadeira, e nem o projeto de lei do PAN, que exige um período de nojo de cinco anos entre a saída do executivo e passagem para o Banco de Portugal, o impedirá.

Depois desta audição parlamentar, será elaborado um relatório e só depois é que o Conselho de Ministros poderá designar Centeno para o cargo de governador. A responsabilidade de elaborar o relatório ficou a cargo do grupo parlamentar do PS e o parecer será redigido pelo deputado socialista João Paulo Correia, que foi nomeado relator.

No olho do furacão

Foram muitas as crises, os casos e as polémicas que marcaram os dois mandatos de Carlos Costa à frente do Banco de Portugal. Mas, para todos os efeitos, o governador deverá ser lembrado sobretudo pela queda do império do Grupo Espírito Santo e a resolução do BES. Mas não foi a única crise que Costa teve de gerir no cargo de governador, que ocupou durante uma década.

Licenciado em Economia, Costa foi nomeado governador no verão de 2010, sucedendo no cargo ao socialista Vítor Constâncio, que saiu para assumir funções como vice-presidente do Banco Central Europeu.

Enfrentou, logo em 2011, o resgate financeiro do país e a chegada da troika a Portugal. À crise no país somou-se a do setor financeiro e o período em que bancos precisaram de ajuda estatal. O BES ficou de fora das ajudas. Mas o grupo liderado por Ricardo Salgado acabaria por cair no início de agosto de 2014. Foi criado o Novo Banco, supostamente para ficar com os ativos do defunto BES. Mas também este banco se tornaria uma dor de cabeça para o Banco de Portugal e para o governo.

Pelo meio, foram várias as decisões polémicas adotadas pelo supervisor financeiro sob a liderança de Carlos Costa. Muitas deram origem a processos contra o banco central mas também contra o próprio governador, que chegou a ter manifestações de lesados à porta de casa. A resolução do Banif e a sua venda ao Santander Portugal também marcaram o seu mandato.

Outros casos abalaram a imagem de Costa, incluindo o inquérito parlamentar à gestão da Caixa Geral de Depósitos, em 2019, que questionou o papel de Costa na concessão de créditos tóxicos quando era administrador. A sua destituição chegou a ser falada. Teve ainda de explicar umas férias em Vale do Lobo - do qual a CGD foi credor - e a compra de um monte no Alentejo a Armando Vara.

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