Capicua pôs Sines a gritar o nome de Jane Fonda
Era a primeira noite de uma verdadeira enchente, a desta sexta-feira, penúltimo dia do Festival Músicas do Mundo (FMM). Já a noite de Sines ia a meio quando Capicua entrava em palco e, acapela, abria o concerto com Jugular ("Cinto aperta é perto a jugular / Carta aberta é conta pra pagar").
No seu sotaque do norte, a rapper portuguesa ia falando com o público por entre as canções de Sereia Louca (2014) com remisturas de Medusa (2015). Numa das vezes em que a sua militância trocou a música pela palavra quase sem tom, Capicua referiu a "repressão com mão cada vez mais pesada em Angola".
Tal como a angolana Aline Frazão, que no concerto de quinta-feira no FMM fez questão de proferir os nomes dos 15 jovens presos há cerca de um mês, acusados de tentativa de golpe de Estado, também Capicua entra no vídeo "Liberdade Já | Freedom Now". Nele, as duas músicas juntam-se a ativistas e artistas como José Eduardo Agualusa, Ondjaki ou Batida (Pedro Coquenão).
Depois de evocações a Elis Regina (Casa de Campo), Sophia de Mello Breyner e Sérgio Godinho, Capicua pôs a multidão que se estendia à sua frente a dançar de braços no ar e a gritar o nome de Jane Fonda ("Que como a Jane Fonda é de Vayorken / E em Vayorken a gente diverte-se imenso!") em Vayorken.
Antes de Capicua - o nome português que acrescia ao multi-instrumentista Bruno Pernadas, a quem coube a abertura desta sexta-feira do palco do castelo - já o indiano Nilandri Kumar voltara a mostrar a que soa a Índia escutada através do sitar.
Na edição passada de FMM, fizera-o na avenida da Praia, este ano subiu ao castelo. Aos fortes aplausos que seguiram a primeira parte do concerto, o músico logo respondeu num tom jocoso: "Obrigada, mas eu estava só a ensaiar". Ao seu lado, e porque o concerto era de Kumar & Friends, estiveram as tablas de Niti Ranjan e a flauta transversal de Aura Rascón.
O palco do castelo fechava esta sexta-feira com os italianos Canzoniere Grecanico Salentino, grupo que este ano comemora 40 anos, na sua típica recriação da pizzica, também chamada taranta. Trata-se de uma dança ritual outrora usada para curar o ataque da tarântula e espantar demónios.
Entre dança, vozes, gaitas-de-foles italianas, harmónicas, tambores, violinos ou um acordeão diatónico, todos seguiam as instruções vindas de Itália e "exorcizavam os demónios", como dizia Mauro Durante, líder daquele grupo oriundo de Salento. Hoje em dia, afirmava, "os demónios a exorcizar são outros", da "crise" à situação dos "imigrantes de África que tentam entrar na Europa por Itália".
Este sábado, último dia desta 17.ª edição do FMM, espera-se lotação esgotada para ver Moriarty (21.45) Toumani & Sidiki Diabaté (23.00), Salif Keita (00.30).