Cão que ladra também morde. Adolescentes e (tentativas de) suicídio
"A minha filha diz que se mata, mas é da boca para fora, só para chamar a atenção". Este é um tipo de afirmação que se ouve com alguma frequência por parte de muitos pais que, ao fazê-lo, mais não estão do que a desvalorizar e a minimizar o risco de suicídio dos seus filhos, contribuindo para que estes se sintam incompreendidos e (ainda mais) sozinhos.
A ideação suicida pode ser concetualizada como um continuum, que varia entre a total intenção de continuarem a viver, até à intenção absoluta de se matarem. Ao longo deste continuum temos diversas situações, de maior ou menor gravidade, em função da natureza, frequência e persistência dos pensamentos ou imagens, da existência (ou não) de um plano suicida e do acesso ao método identificado, entre outras variáveis que podem assumir-se como fatores de risco ou de proteção. De uma forma geral, podemos afirmar que quanto maior for a magnitude e persistência dos pensamentos suicidas e quanto mais detalhado e específico for o plano suicida (o que é indicador, também, de elevada premeditação), maior é o risco de suicídio.
Os pensamentos e as tentativas de suicídio surgem frequentemente associados a estados mais depressivos e a elevada desesperança face ao futuro, e podem envolver comportamentos de risco diversos, com o objetivo de desafiar os limites e a morte.
CitaçãocitacaoOs comportamentos de automutilação e as tentativas de suicídio podem também ser uma forma de pedir ajuda, muitas vezes um modo desesperado de chamar a atenção para o sofrimento que se sente.esquerda
Estes comportamentos englobam também os comportamentos de autoagressão não-fatais e podem ter vários significados ou cumprir diversos objetivos: escapar de uma dor intolerável; lidar com sentimentos de frustração; sentir que a vida deixou de fazer sentido; tentar reencontrar alguém que perdeu; desejo de vingança ou de agredir alguém com o seu gesto; desafio aos limites, numa espécie de triunfo sobre a morte. Os comportamentos de automutilação e as tentativas de suicídio podem também ser uma forma de pedir ajuda, muitas vezes um modo desesperado de chamar a atenção para o sofrimento que se sente.
Mas quer isto dizer que, sendo uma forma de chamar a atenção, deve ser desvalorizada? Naturalmente que não. Estes jovens precisam de sentir que não estão sozinhos e que os pais os acolhem na sua dor. Precisam de escuta ativa e de ajuda especializada, não de juízos de valor ou críticas destrutivas.
Psicóloga clínica e forense, terapeuta familiar e de casal