Canícula

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Os últimos dias vêm comprovar, de forma inequívoca, que as alterações climáticas são um fenómeno do presente e não apenas um problema para as gerações futuras. Não há como empurrar com a barriga, as consequências já começaram a sentir-se a sério.

Na Península Ibérica, o cenário atual mostra uma realidade difícil: temperaturas muito altas, falta de água, desertificação do território. Ao que tudo indica, tudo isso será ainda mais frequente no futuro.

Ser confrontado com a escassez de água, em particular, induz um sentido de urgência. Mesmo que existam reservas para dois anos de consumo humano, o país precisa de começar a trabalhar com base em novos pressupostos climáticos, nomeadamente o risco acrescido de anos consecutivos com ondas de calor e de baixa precipitação - tal como tem acontecido.

A falta de água exige certamente repensar hábitos de consumo, mas não bastará despejar todo o esforço na responsabilidade individual dos cidadãos. É preciso avançar com respostas estruturais que permitam aumentar a disponibilidade de água potável em Portugal.

Quero contribuir para o debate. Aumentar a nossa capacidade de capturar água da chuva e reservá-la. Investir no tratamento de águas residuais domésticas, permitindo a sua reutilização para outras finalidades que não o consumo humano. Melhorar a infraestrutura de distribuição, reduzindo as significativas perdas que ocorrem. Incentivar a inovação e desenvolvimento de tecnologias de dessalinização com menor impacto ambiental.

Se é verdade que todas estas medidas são importantes para aliviar a pressão sobre a rede de abastecimento, importa não esquecer o peso determinante da agricultura no consumo total do país. Segundo um estudo recente da Fundação Calouste Gulbenkian, o setor agrícola é responsável por 75% da água utilizada em Portugal. Terá de ser parte da solução.

Os fundos europeus, quer do Plano de Recuperação e Resiliência, quer do Quadro Financeiro Plurianual (o acordo de parceria Portugal 2030 será assinado nos próximos dias), podem ser um catalisador destas mudanças. Investimento em inovação e tecnologias de otimização e eficiência - como a utilização de sensores e dados para evitar excesso de rega - serão importantes para a sustentabilidade das próprias culturas.

A resiliência e adaptação climática são frequentemente subvalorizadas quando falamos na transição verde. O debate público tem estado concentrado na transformação industrial e na produção de energia renovável - que muita projeção ganhou recentemente, em particular desde a invasão russa da Ucrânia -, mas é preciso não esquecer as medidas que asseguram, no presente e no futuro, a qualidade de vida dos cidadãos e a poupança de recursos naturais escassos.

Não nos iludamos: não bastam medidas reativas perante a ocorrência de fenómenos climatéricos extremos. Para combater as alterações climáticas é preciso uma resposta estrutural, muito para lá da promoção da autonomia energética.

Escândalo atrás de escândalo, o primeiro-ministro demissionário foi tentando aguentar-se à frente do governo britânico. Não conseguiu. O problema de fundo - exposto à vista de todos - é que o programa político de Boris Johnson pouco ou nada tinha, além de concretizar o Brexit e antagonizar a União Europeia no processo. Não correu bem.

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PS: Farei uma pausa na publicação deste espaço de opinião. Agradeço ao DN e aos leitores, volto a 18 de agosto.

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Eurodeputado

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