Cândido revela pressão do treinador para usar doping

Ciclista acusou Américo Silva no inquérito à equipa Liberty Seguros, mas o director desportivo nega ter sugerido o consumo de EPO e diz que todas as questões médicas eram apenas responsabilidade dos clínicos
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Alberto Beltrán Niño é o médico colombiano apontado de forma quase unânime como o responsável pelos casos de doping que abalaram a Volta a Portugal de 2009 e levaram à extinção da Liberty Seguros. No inquérito conduzido pela Federação Portuguesa de Ciclismo (FPC), dirigentes e ciclistas disseram não saber que Beltrán já tinha sido falado em Itália por dopagem. Cândido Barbosa, ex-ciclista da equipa, desmentiu esta versão e disse que chegou a falar deste assunto com os colegas Nuno Ribeiro e Hector Guerra. Revelou também ter sido pressionado pelo director desportivo, Américo Silva, a usar eritropoietina (EPO). Facto que o dirigente nega.

Cândido já tinha deixado a Liberty Seguros quando esta foi extinta devido aos testes positivos de Ribeiro, Guerra e Isidro Nozal. Competia pela Palmeiras Resort-Tavira, mas Nuno Ribeiro nomeou-o testemunha abonatória. Cândido revelou ao instrutor do processo, nomeado pela FPC, que quando esteve na Liberty "lhe foi sugerida a prática de dopagem".

O ciclista contou que antes da Volta a Trás-os-Montes e Alto Douro de 2004 recebeu um telefonema de Américo Silva, em que este afirmou ter um recuperante diferente do habitual. Cândido "questionou que produto era esse, ao que o director desportivo lhe respondeu que era EPO e que podia tomar sem problema, pois naquela prova não havia controlo antidopagem. Perante isto, o declarante respondeu que não admitia sequer continuar com a conversa e que, sendo assim, não contasse com ele para fazer aquela prova", pelo que o treinador recuou, descreve o instrutor no processo que levou à suspensão de Ribeiro, por dois anos, e que o DN consultou.

Américo Silva nega a ocorrência desta conversa. "Nós sempre tivemos um médico na equipa. Se fosse assim, para quê termos um médico na equipa? Lógico que nego isso. Só fui director desportivo, não fui patrão, nem dono. A equipa tinha director desportivo, administrador e médico. Recuperantes eram tratados entre o médico e a equipa. Quando uma equipa não tem médico até se pode colocar essa hipótese ao nível dos recuperantes. Mas se a equipa paga para ter médico fará isso algum sentido? Eu estipulava as competições e geria a parte técnica", vincou Américo Silva ao DN, reforçando o que já dissera no seu testemunho: que ele não controlava os produtos que o clube comprava e que os clínicos administravam.

As responsabilidades do técnico são ponto de divergência entre os ciclistas que ainda estavam na equipa e Cândido. Os primeiros "fizeram questão de referir que Américo Silva tinha competências meramente funcionais e não intervinha na parte médica". Motivo pelo qual o instrutor não propôs a abertura de um processo contra o dirigente. O corredor Hernâni Broco disse que era o treinador quem estipulava quais ciclistas deveriam estar em forma, mas não havia mais provas. Cândido afirmou que "todas as substâncias dadas aos atletas eram do conhecimento" do treinador, até porque "o plano médico está associado ao de treino". Mas o depoimento deste foi considerado pelo instrutor como estando "desfasado no tempo", pois o corredor já tinha deixado a Liberty há várias épocas e não havia garantias de que o' modus operandi' se mantinha.

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