Candidata do 5 Estrelas torna-se primeira mulher a dirigir Roma

Resultados de eleições municipais evidenciam derrota do partido do primeiro-ministro Matteo Renzi nos maiores centros urbanos. Jurista de 37 anos ganha Câmara da capital.
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A segunda volta das eleições municipais de ontem em Itália ficou marcada pela previsível vitória da candidata do Movimento 5 Estrelas (M5E, populista e ecologista) à Câmara de Roma. Virginia Raggi, de 37 anos, vai ser a primeira mulher a dirigir o município da capital italiana.

A votação de ontem ficou marcada por uma taxa de participação ainda mais baixa - 36,56% - do que a verificada na primeira volta, no passado dia 5, que foi de 43,72%.

Os resultados parciais indicam que Raggi conta com 67% dos votos (com 80% já escrutinados) enquanto Roberto Giachetti, candidato do Partido Democrático (PD) do primeiro-ministro Matteo Renzi e apoiado por outras formações de esquerda e centro-esquerda, não deverá ter mais de 36%. Este é um triunfo histórico para o M5E ao conquistar Roma e também Turim. Chiara Appendino alcançou 54% dos votos, contra os 45 por cento de Piero Fassino, candidato do PD.

Estavam em causa 126 municípios, dos quais 18 grandes cidades, além de Roma e Turim, como Milão Nápoles e Bolonha, num total de 8,6 milhões de eleitores. Os resultados da primeira volta apontavam para claro revés dos candidatos do PD.

Em Milão, o duelo permanecia renhido à hora de fecho desta edição, com Beppe Sala, do PD, a manter uma pequena vantagem sobre o candidato de centro-direita, Stefano Parisi, que reúne o apoio do Povo das Liberdades, de Silvio Berlusconi, da Liga Itália e de Irmãos de Itália-Aliança Nacional.

Das grandes cidades mencionadas, o PD garantiu a vitória em Bolonha, onde o presidente em funções, Virginio Merola, superou claramente a candidata de centro-direita, Lucia Bergonzoni. Merola pode chegar aos 58% enquanto Bergonzoni não passava dos 46%. Finalmente, em Nápoles, confirmou-se a recondução do independente de esquerda Luigi de Magistris, com mais de 60% face a menos de 40% para Giovanni Lettieri, do centro-direita.

A vitória de Virginia Raggi, uma jurista, assentou no discurso antissistema típico do M5E, de críticas à esquerda e à direita, mas não recusando incorporar propostas de ambos os quadrantes políticos. Uma tendência ontem evidenciada por Raggi, que não hesitou em citar um dos mais populares e respeitados presidentes da República, o socialista Sandro Pertini, que desempenhou funções entre 1978 e 1985. Depois de votar, a candidata do M5E declarou que "hoje só importam duas qualidades: a honestidade e a coragem".

Os adversários notam a falta de experiência política e executiva de Raggi, cujas únicas funções públicas têm sido as de vereadora em Roma nos últimos três anos. Argumento que não intimidou a jurista durante a campanha, que escolheu como prioridade devolver uma "cultura de legalidade" à gestão da capital.

No dia anterior à votação, o editorial do diário La Repubblica antecipava que estas municipais deixariam "uma marca na política italiana", assinalando "a descontinuidade e uma possível rutura do sistema".

Fundado em 2009 a partir de uma iniciativa do blogger, humorista e ativista político Beppe Grillo, conhecendo crescente aceitação entre o eleitorado italiano, sendo o terceiro partido mais votado nas legislativas de 2013, com 25% dos votos, atrás do PD, que teve 29,5%, e do Povo das Liberdades, com 29,1%. Desde então, não tem cessado de se afirmar, apesar de algumas declarações de Grillo e de algumas controvérsias internas, capitalizando o descontentamento do eleitorado com as forças políticas tradicionais. Além de referências ambientais e no quadro do discurso antissistema e algo anticapitalista, o M5E apresenta-se também como eurocético, mas recusa qualquer xenofobia.

Ao serem conhecidos os resultados da primeira volta das municipais, o primeiro-ministro Matteo Renzi procurou desvalorizar a sua dimensão, afirmando que para ele o mais importante é o referendo sobre a reforma do Senado, que está previsto para outubro. Uma batalha política de cujo resultado fez depender a continuação à frente do governo. De facto, uma extrapolação nacional é sempre duvidosa e, apesar do sucesso do M5E, os populistas não estiveram presentes em cidades como Milão, Bolonha e Nápoles. Aqui, o candidato do PD foi afastado logo na primeira volta pelo presidente em exercício, Luigi de Magistris, anteriormente ligado ao movimento Itália dos Valores, fundado pelo juiz Antonio di Pietro, que se destacou nos anos 90 como um dos principais investigadores do caso Mãos Limpas sobre financiamento ilegal e corrupção na política italiana.

(Notícia atualizada às 01:03)

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