Canadá admite reforçar fronteira para gerir crise migratória da era Trump
Depois de Donald Trump anunciar, em janeiro, a suspensão de entrada nos EUA de cidadãos de sete países de maioria muçulmana, o primeiro-ministro canadiano foi dos primeiros a reagir. No Twitter, Justin Trudeau escreveu: "Aos que fogem do terror e da guerra, fiquem a saber que os canadianos vos irão receber, independentemente da vossa fé." Agora que o presidente americano deu ordens para alargar as deportações de imigrantes ilegais não só aos que cometeram crimes graves mas também aos condenados por violação das regras do trânsito ou pequenos furtos, Trudeau resiste às pressões da oposição para travar o fluxo crescente de ilegais que tem atravessado a fronteira com o Canadá nas últimas semanas. Mesmo se o governo de Otava está a estudar formas de aumentar a segurança com mais polícia e guardas fronteiriços.
"Vamos continuar a manter o balanço entre um sistema rigoroso e aceitar pessoas que precisam de ajuda", garantiu Trudeau no Parlamento, afirmando ainda que "uma das razões para o Canadá continuar um país aberto é que os canadianos confiam no nosso sistema de imigração e na integridade das nossas fronteiras e na ajuda que damos às pessoas que procuram segurança".
A oposição conservadora teme que as novas medidas anti-imigração assumidas a sul da fronteira levem a que uma vaga de ilegais desesperados tente entrar no Canadá pelas zonas isoladas da maior fronteira do mundo, como alertam para as dificuldades das localidades fronteiriças para receber estas pessoas.
Os números oficiais confirmam este fluxo crescente de ilegais. De 2015 para 2016 os pedidos de asilo de pessoas que atravessaram a fronteira entre EUA e Canadá duplicaram. E só neste mês de janeiro houve 452 pedidos apresentados no Quebeque. Em janeiro de 2016 foram 137. Nas províncias de Manitoba e do Quebeque, são dezenas de ilegais que chegam de táxis até alguns metros da fronteira, fazendo o último trecho do percurso a pé, no meio da neve e com temperaturas negativas. Farhan Ahmed foi um deles e o The Huffington Post contou a sua história. Chegou com um grupo de 12 pessoas, entre as quais várias crianças, tendo feito 12 quilómetros no meio da neve antes de receberem o apoio das autoridades canadianas. Natural da Somália, imigrou para os EUA em 2014, tendo trabalhado como motorista de camiões no Ohio. Mas, quando a suspensão de entradas no país ordenada por Trump abrangeu pessoas com nacionalidade somali, Farhan percebeu que chegara o momento de deixar os EUA e tentar a sorte a norte.
Nascido ele próprio na Somália, o ministro da Imigração canadiano, Ahmed Hussen, garantiu que Otava vai continuar a honrar o acordo com os EUA que prevê a devolução dos requerentes de asilo vindos de um país seguro. Hussen garantiu no entanto que tal compromisso não impede o Canadá de ajudar as pessoas que atravessam a fronteira de forma ilegal. Porquê? Porque há uma lacuna na lei. Esta prevê que quem atravessar a fronteira do Canadá vindo dos EUA e se apresente como requerente de asilo deve ser devolvido ao primeiro país. Mas nada diz sobre quem entrar no país de forma ilegal, atravessando as tais zonas isoladas e sem guardas. Os advogados dos refugiados têm pedido ao governo de Otava que rejeite o acordo com os EUA, alegando que estes já não são um país seguro para os imigrantes ilegais.
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Mas nem todos no Canadá concordam com a política integracionista de Trudeau. Se 60% dos inquiridos numa sondagem online realizada no início do mês junto de 1508 canadianos aplaudiram a atuação do governo, 25% apoiaram a suspensão temporária da entrada de refugiados. Otava comprometeu-se a aceitar 40 mil refugiados neste ano - o número certo para 40% dos inquiridos. Só 11% acham que deviam aceitar mais.