Caminhos alternativos convidam à reflexão

António Antunes lidera um grupo de 18 pessoas que partiu esta semana de Alverca com destino a Fátima e que desfila ao longo da estrada nacional 3, enfrentando um trânsito contínuo e ruidoso.
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"Temos falado várias vezes que seria benéfico termos um caminho alternativo, porque corremos riscos muito grandes, com passagens muito estreitas, curvas sem visibilidade, com pessoas infelizmente inconscientes e que não têm respeito para com os peregrinos", disse à agência Lusa.

António espanta-se quando lhe dizem que está precisamente num cruzamento que lhe oferece esse caminho alternativo, o Caminho do Tejo, criado há 11 anos pelo Centro Nacional de Cultura.

"É o 16.º ano que venho em peregrinação e sempre pela estrada nacional, porque não conheço outra alternativa. Ouço falar nos caminhos de Fátima, mas também ouvi dizer que passamos por situações um bocado desertas, onde pode haver alguma situação de necessidade de alguma pessoa ser socorrida, mas também desconhecemos", justifica.

António Antunes falou à Lusa numa pausa no parque de merendas situado junto à Quinta de Vale de Lobo (onde viveu, na segunda metade do século XIX o escritor e historiador Alexandre Herculano), num cruzamento que oferece aos peregrinos a possibilidade de optarem por um trajeto bem mais tranquilo que a azafamada nacional 3.

O pequeno azulejo pintado a azul, com a seta a indicar a direção certa do Caminho de Fátima, em que António nunca tinha reparado, não passou despercebido ao grupo que pouco antes repousou no mesmo sítio.

"Este caminho ajuda-nos a rezar e a fazer a peregrinação sem pôr em risco as pessoas", disse à Lusa o frade franciscano Paulo Ferreira, que lidera um grupo de 42 peregrinos que partiu domingo de Lisboa.

O grupo começou a peregrinar até Fátima há 10 anos, depois da abertura do Caminho do Tejo, um percurso de 143,5 quilómetros que liga Lisboa ao santuário, um pouco mais que os cerca de 130 quilómetros feitos em estrada.

"Quando nos pomos a peregrinar sabemos que temos que fazer um bocado de sacrifício. Às vezes o mais curto é inimigo do ótimo. Aqui temos oportunidade de desfrutar da paisagem e rezar conjuntamente, o que não acontece com quem vem pela estrada. Pode rezar, mas é perturbado pelo ruído do trânsito, e todos os anos há notícias de atropelamentos", disse à Lusa.

Paulo Ferreira confirma a convicção de Rodrigo Cerqueira, da Associação de Amigos dos Caminhos de Fátima, de que quem experimenta estes caminhos "dificilmente quer voltar à estrada".

Aos que se queixam de que a rota que os tira da estrada os faz demorar mais tempo a atingir o objetivo de chegar a Fátima, quando a caminhada já é tão penosa, Rodrigo Cerqueira responde que "rápido, rápido é ir de carro".

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