Cameron na NATO? Por agora dedica-se a livro e conferências
Quando surgiram os rumores de que o governo britânico estaria a pensar propor David Cameron para o cargo de secretário-geral da NATO, substituindo o norueguês Jens Stoltenberg, que deverá sair em 2018 ou 2019, não houve qualquer reação oficial da parte de Downing Street. Fontes limitaram-se a dizer aos media britânicos que nenhuma decisão tinha ainda sido tomada sobre a possibilidade de apoiar ou não um candidato próprio. Há tempo. Por enquanto, o ex-primeiro-ministro vai ganhando dinheiro com palestras, tendo também já vendido os direitos para um livro de memórias.
Cameron anunciou a demissão a 24 de junho, um dia após perder o referendo sobre a saída do Reino Unido da União Europeia, deixando o governo a 13 de julho. Dois meses depois, abdicou também do cargo de deputado eleito por Witney. "Temos de arranjar um papel para ele. Ele tem tanto para oferecer. Temos de o pôr a lutar outra vez pelo Reino Unido", disse um ministro de Theresa May no final de 2016, ao Daily Mail . Esse cargo seria, segundo o artigo, como secretário-geral da Aliança Atlântica, alegando-se que era preciso ele começar já a participar em conferências sobre defesa e política de segurança.
Segundo os media britânicos, os especialistas acreditam que um antigo chefe do governo terá mais probabilidade de conseguir o cargo do que um antigo ministro da Defesa ou dos Negócios Estrangeiros - tanto Stoltenberg como o antecessor, o dinamarquês Anders Fogh Rasmussen, foram primeiros-ministros. E ter um secretário-geral da NATO seria uma forma de o Reino Unido manter a sua influência na segurança europeia e mostrar que deseja continuar a ter uma relação construtiva com a UE, apesar do brexit. O ministro da Defesa, Michael Fallon, disse no passado que Londres vai desempenhar um papel maior na NATO para compensar a saída da União Europeia.
Já houve três britânicos no cargo - Lorde Hastings Ismay (o primeiro secretário-geral, de 1952 a 1957), Lorde Peter Carrington (1984 a 1988) e Lorde George Robertson (1999 a 2003). Mas Cameron poderá ter dificuldades em ser o quarto, com muitos parceiros europeus a não perdoarem o facto de não ter ganho o referendo. Ainda assim, o Reino Unido é o país que mais contribuiu para a NATO depois dos EUA, tendo o presidente eleito, Donald Trump, já se mostrado crítico em relação à Aliança Atlântica.
Enquanto espera a saída de Stoltenberg e as jogadas de bastidores que irão permitir a escolha do seu sucessor, Cameron imita os outros ex-primeiros-ministros britânicos e dedica-se à lucrativa atividade de orador. Laurence Mann, seu antigo secretário político, é o diretor da empresa The Office of David Cameron Ltd., que supervisiona os interesses de negócios do ex-chefe de governo.
Em novembro, os media britânicos revelaram que Cameron tinha cobrado 120 mil libras (cerca de 140 mil euros) por um discurso sobre as implicações do brexit que durou pouco mais de uma hora nos EUA - o equivalente a duas mil libras (2300 euros) por minuto. Muito aquém dos 400 mil libras por conferência (460 mil euros) que alegadamente ganha o ex-primeiro-ministro Tony Blair, mas melhor do que Gordon Brown (75 mil libras, 85 mil euros). Quando estava no número 10 de Downing Street, Cameron ganhava 140 mil libras (160 mil euros) por ano - se conseguir ser secretário-geral da NATO ganhará anualmente 200 mil libras (230 mil euros).
Além das palestras, o antecessor de Theresa May está também a preparar o lançamento das suas memórias. Segundo o The Daily Mail, assinou um acordo de 800 mil libras (915 mil euros) com a editora Williams Collins. Mais uma vez, muito aquém dos 4,6 milhões de libras (5,3 milhões de euros) de Blair, que doou o dinheiro a uma organização que ajuda veteranos.