Cameron contra modelo norueguês de relação com a UE

Primeiro-ministro avisa que Noruega é obrigada a aceitar regras sem direito a sentar-se à mesa das negociações
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A dois anos de um prometido referendo sobre a saída do Reino Unido da União Europeia (UE), o primeiro-ministro britânico, David Cameron, tem evitado falar dos argumentos a favor ou contra o chamado Brexit. Até porque está a tentar renegociar os termos da relação entre Londres e Bruxelas. Mas face ao aumento do apoio à saída do bloco, o primeiro-ministro quebrou ontem o silêncio para deixar um alerta aos eurocéticos que defendem a implementação do modelo norueguês.

"Algumas pessoas que defendem a saída do Reino Unido da UE têm mencionado o modelo da Noruega dizendo que este é um bom resultado final. Não o recomendo", afirmou o primeiro-ministro no Parlamento britânico. "A Noruega paga tanto por pessoa para a UE como nós. E recebe duas vezes mais migrantes por pessoa do que nós, mas não tem lugar à mesa ou capacidade para negociar", referiu Cameron antes de partir para a Islândia, onde deveria repetir a mesma mensagem no Fórum Futuro do Norte (no qual participam o Reino Unido, os países nórdicos e os do Báltico).

Os noruegueses recusaram aderir à União Europeia em dois referendos (1972 e 1994), mas fazem parte do Espaço Económico Europeu, que lhes dá acesso ao mercado único. Por causa disso, têm que aceitar os princípios europeus de liberdade de movimentos de bens, serviços, capital e pessoas (faz parte do espaço Schengen), assim como as regras sobre emprego ou concorrência. Contudo, apesar de ter representantes em várias instituições europeias, não têm poder de decisão sobre a legislação. E pagam cerca de 340 milhões de euros anualmente à Europa - o think tank Open Europe, citado pelo The Guardian, calcula que o Reino Unido pagaria 94% do que gasta atualmente (43 mil milhões de euros) se adotasse o modelo norueguês.

"Ao contrário do Reino Unido, a Noruega não tem direito de veto no Conselho Europeu, não vota no conselho de ministros da UE, não tem eurodeputados ou votos no Parlamento Europeu, e não tem comissário europeu para ajudar", indicou à BBC uma fonte de Downing Street, questionada sobre o teor do discurso que Cameron tinha previsto fazer na Islândia - outro país que pertence ao Espaço Económico Europeu. A questão da integração europeia deveria ser discutida à margem do Fórum Futuro do Norte.

O porta-voz da campanha que defende o Brexit, Robert Oxley, indicou entretanto à BBC que o seu grupo não defende o modelo norueguês, mas está confiante de que o Reino Unido poderá conseguir negociar o seu próprio modelo que mais se adeque à realidade depois de sair da União Europeia. Oxley acusou também Downing Street de, com o ataque ao modelo norueguês, estar a realizar um "exercício de relações públicas" para distrair a atenção do facto de Cameron não conseguir negociar uma relação diferente com Bruxelas.

Tudo em aberto

O primeiro-ministro está a tentar renegociar os termos da relação do Reino Unido com a UE, dizendo que quer continuar a fazer parte de uma união reformada. Contudo, quer manter as opções em aberto. "Se não conseguirmos o que queremos das negociações, não ponho nada de lado", afirmou Cameron, deixando claro que ainda poderá apoiar o Brexit.

O chefe do governo britânico prometeu aos parceiros europeus entregar o seu plano para a renegociação da relação com a UE no início do próximo mês. Entretanto, tem-se multiplicado em encontros com os líderes europeus - o último que recebeu em Downing Street, na terça-feira, foi o primeiro-ministro luxemburguês, Xavier Bettel.

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