Camboja assinala 30 anos da tomada de Phnom Penh

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O principal partido da oposição no Camboja, o Sam Rainsy (PSR), assinalou ontem o 30.º aniversário da tomada de Phnom Penh pelos khmers vermelhos, numa cerimónia sóbria, em Choeung Ek, um dos principais "campos da morte". Os sobreviventes, esses, continuam a exigir o julgamento dos responsáveis do regime liderado por Pol Pot.

"Organizamos esta cerimónia todos os anos para manifestar a nossa tristeza pelas vítimas desse regime e para que os mortos descansem em paz", declarou o líder interino do PSR, Kong Korm. O evento teve lugar em Cheung Ek, onde estão expostos milhares de crânios das vítimas dos khmers vermelhos (nove mil esqueletos foram exumados das valas comuns após a queda do regime).

A 17 de Abril de 1975, o exército dos khmers vermelhos tomou Phnom Penh, evacuando os dois milhões de habitantes da capital do Camboja. Os ultranacionalistas forçaram os cambojanos a trabalhar nos campos, numa tentativa para estabelecer o que denominavam de "utopia agrária".

Em vez disso, nos quatro anos seguintes, os khmers vermelhos transformaram as quintas em "campos da morte". A propriedade foi confiscada, as escolas fechadas, a religião banida e os alimentos colectivizados. Quase dois milhões de pessoas morreram devido às torturas, ao cansaço ou à fome.

Trinta anos depois, os cambojanos continuam a exigir justiça, enquanto a criação de um tribunal da ONU para julgar os líderes do regime de Pol Pot tem sido repetidamente adiada. O tempo está a esgotar-se, uma vez que os líderes dos khmers vermelhos poderão ser demasiado velhos ou doentes para serem julgados. Pol Pot morreu em 1998, o seu braço direito, Nuon Chea, está paralisado e o chefe da segurança, Kang Kek ("Duch"), foi preso e hospitalizado.

Pailin. O enclave de Pailin, junto à fronteira com a Tailândia, é o último reduto dos khmers vermelhos, cuja elite do Angkar (governo) mantem a liderança. Tráfico de madeira, pedras preciosas, droga, prostituição e jogo eram os seus principais negócios.

No Camboja, todos temem Pailin - com 15 mil habitantes -, o que não impediu missionários americanos de ali se instalarem para os evangelizar. Seis anos depois conseguiram "converter pelo menos 60% da população", garantiu Phanit, pastor da Igreja Presbiteriana, à revista Le Nouvel Observateur.

Phanit acredita ser o sentimento de culpa o segredo para a conversão. Mas Yuk Chhang, do Centro de Documentação do Camboja sobre o Genocídio, explicou "Os missionários oferecem-lhes sobretudo uma porta de saída para sobreviverem numa sociedade que associa o movimento dos khmers vermelhos ao demónio. Os sacos de arroz, as roupas ou até uma viagem aos EUA fazem a diferença". O facto é que alguns mudaram: "Duch", responsável por 16 mil mortes, terá evangelizado alguns milhares e, agora, compara-se agora a Paulo de Tarso (S. Paulo).

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