"Não é uma questão de ameaça, mas de equidade. Há muito que as camas em alojamento local ultrapassaram já as camas em alojamento turístico, neste momento são pelo menos três vezes mais, e é preciso monitorizar isto, até por questões como a 'turismofobia' e a capacidade de carga", afirmou a presidente executiva da AHP durante o XIV Fórum Internacional de Turismo, promovido hoje pelo IPDT -- Turismo e Consultoria em Vila Nova de Gaia..De acordo com Cristina Siza Vieira, situações como "prédios inteiros com alojamento local, estabelecimentos de hospedagem com 30 utentes ou 'hostels' são realidades muito mais próximas da realidade de empreendimentos turísticos do que as outras realidades - importantíssimas na economia do país, não só durante a crise, mas ainda hoje porque respondem a uma procura específica - que são os apartamentos, os quartos ou as moradias isolados, que atualmente até já são explorados de forma comercial por empresas que se dedicam a isso".."Dentro do alojamento local é tempo de haver esta destrinça, porque há tipos de estabelecimentos que exigem efetivamente recursos específicos e requisitos de segurança, de higiene e de serviços distintos de outros", sustentou, acrescentando que "é uma questão de equidade no acesso ao mercado", que é o mesmo: alojamento para turistas..Segundo os dados hoje avançados pela AHP, existem atualmente mais de 84.700 registos de alojamento local, pelo que, multiplicando este número por uma média de dez camas, são "mais de 800 mil camas em alojamento local", contra as 200 mil existentes em hotelaria. .Uma realidade que, salientou a dirigente associativa, neste momento "escapa a todos", sendo suposto "que a conta satélite de turismo comece a tratá-la, monitorizando quer a oferta, quer a 'performance' do alojamento local".."Pelo menos aquele mais estruturado, que tenha mais de dez camas", acrescentou..É que, recordou, quando o alojamento local nasceu, em 2008, "foi para trazer para dentro do sistema uma grande realidade, que eram as camas paralelas que existiam abundantemente no Algarve e não tinham enquadramento". Entretanto, o alojamento local "absorveu também uma série de categorias que foram extintas", como as pensões, motéis, estalagens e albergarias, mas o facto é que até há algum tempo "era residual"..Também referido por Cristina Siza Vieira como fazendo "pouco sentido" é o facto de a "flexibilidade de uso" permitida ao alojamento local -- de, "por exemplo, passar de uso habitação para utilização turística, mantendo o mesmo tipo de licença" -- não se aplicar aos empreendimentos hoteleiros.."Não faz sentido que não seja permitido também a um hotel reentrar no mercado da habitação, por exemplo, vender frações, reconfigurando hotéis em habitação", se o mercado assim o justificar, considerou..Finalmente, a presidente da AHP disse estarem "a entrar dentro do alojamento local realidades que não cabem noutro sítio", como é o caso de residências para estudantes: "Ou seja, dentro do alojamento local, que devia ser para turistas, já estão realidades que já não têm cobertura na lei", disse..Na análise que fez do setor turístico em Portugal, nomeadamente das perspetivas dos hoteleiros associados da AHP, Cristina Siza Vieira referiu como tendo sido "pela primeira vez" referida entre os principais constrangimentos ao negócio a "escassez de recursos humanos".."No nosso inquérito periódico aos nossos associados hoteleiros aparece, pela primeira vez, nos constrangimentos ao crescimento do negócio a escassez de recursos humanos. Não é apenas a falta de formação ou a falta de recursos humanos qualificados, é pura e simplesmente escassez, não há recursos humanos suficientes para trabalhar na hotelaria e este é apontado por quase 100% dos nossos inquiridos como sendo um grande constrangimento", disse ainda.