Câmaras para armazenar plasma usadas como arrecadações
A forma como as câmaras de frio, situadas no Parque da Saúde, em Lisboa, estão a ser utilizadas foi hoje denunciada pelo presidente do Instituto Português do Sangue (IPS) que reconheceu que, por incapacidade de tratar o plasma que resulta do sangue colhido em Portugal, este tem sido destruído.
Esta situação, que se arrasta há dez anos, resulta de problemas com um concurso e custa ao Serviço Nacional de Saúde (SNS) cerca de 70 milhões de euros por ano na aquisição de plasma fracionado, segundo Álvaro Beleza.
Em janeiro de 2002, o então ministro da Saúde Correia de Campos inaugurou as câmaras de frio, tendo sido anunciado que estas iriam permitir o armazenamento do plasma. Tratou-se de um projecto de 1,5 milhões de euros com a capacidade de armazenar até 170 mil unidades de plasma.
Na altura, o ministro sublinhou que, quando a utilização do plasma não fosse necessária para o emprego diretco, seria possível exportá-lo para os países com capacidade de fraccioná-lo (dividindo-o em glóbulos vermelhos, plasma e plaquetas) e importá-lo novamente, mas já devidamente transformado, nomeadamente em medicamentos.
O presidente do IPS na altura, Almeida Gonçalves, disse então que isso iria permitir uma poupança elevada, uma vez que o plasma recolhido em Portugal serviria de matéria-prima e Portugal só teria de pagar o custo do fracionamento.
Hoje, Almeida Gonçalves disse à Lusa que as câmaras de frio não começaram logo a funcionar devido aos receios da BSE (doença das "vacas loucas"), tendo a sua direcção do IPS optado por obter mais informações sobre a dimensão do problema. "Este problema atrasou o projeto, mas optamos por isso para termos a certeza que não havia risco de contaminação", disse. Almeida Gonçalves deixou, entretanto, o IPS.
Quase dez anos depois, estas câmaras de frio, que nunca chegaram a ser utilizadas para este fim, são usadas como depósito de material, denunciou Álvaro Beleza.