ADQUIRIU muitos nomes ao longo dos anos, que têm que ver sobretudo com a sua origem: camarão de Espinho, camarão da pedra, camarão do cofre, mas é sempre o camarão da nossa costa, uma variedade que se encontra principalmente na costa norte do país, de águas mais frias, onde se dá melhor.
Vive protegido pelas algas marinhas e refugia-se normalmente nas fendas e buracos subaquáticos perto da costa. É vulgarmente apanhado pelos pescadores com pequenas cestas de malha fina, adequadas ao seu tamanho. E é aqui que reside a sua única desvantagem para quem o aprecia: geralmente bastante pequeno, por isso com pouco miolo, torna-se mais trabalhoso para comer.
Normalmente, apresenta uma cor esverdeada, que passa a laranja-forte, quase vermelho, depois de cozido. É cozido, só com um pouco de sal grosso, que é mais apreciado, embora em muitos locais o cozam sem sal e depois o polvilhem por cima.
Há quem o aprecie ainda quente, depois da cozedura, mas é mais vulgar ser servido depois de arrefecer, muitas vezes passado por água bem fria, antes de vir à mesa. Eu gosto dele ligeiramente refrescado, depois de repousar uma meia hora no frigorífico.
A carne é rija, sabe a mar mas tem aquele toque ligeiramente adocicado, delicioso. A parte mais saborosa, no entanto, é... a cabeça! Então se estiver ovado, com aquela massa alaranjada, é um petisco. Pena é que muita gente não coma, ou melhor, não chuche as cabeças do camarão, deliciosas.
Mas o camarão da costa pode ser confeccionado de outras formas ou entrar na confecção de alguns pratos, que só têm a ganhar com a sua utilização, em detrimento de outro tipo de camarão que, podendo ter muita qualidade, não tem esta riqueza, este paladar, esta elegância. São os casos da sopa ou creme de camarão, em que se deve utilizar a água da cozedura, e a açorda de camarão – ficou famosa a açorda da D. Amélia, saudosa proprietária do já extinto restaurante Garrafão, em Leça da Palmeira, que Maria de Lourdes Modesto filmou para o seu programa de culinária, nos idos anos 1960, e que tinha por base um caldo... de galinha velha.
E ainda o arroz de camarão, muito mais interessante do que os vulgares arrozes de marisco, pois temos apenas a riqueza do paladar do nosso camarão da costa. Eu gosto de o ir descascando, chuchando as cabeças e depois, no fim, languidamente, comê-los todos de seguida, gulosamente. Experimentem