Câmara esconde no site atrasos nas obras mudando as datas

Oposição não está surpreendida com derrapagem, nem com mexidas nos prazos sem indicação da mudança. Trabalhos deviam acabar em outubro mas só estarão concluídos em março
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Santos, Graça e Campolide deviam ter novas praças até ao final de outubro. Esta era a previsão inicial, que entretanto foi revista pela Câmara Municipal de Lisboa (CML) para o primeiro trimestre de 2017. Uma mudança que foi feita no site onde estão disponíveis os dados sobre as obras, mas onde deixou de constar a informação de que a obra está atrasada.

No início da semana passada, quando o DN consultou o site da autarquia eram visíveis algumas obras que não tinham indicação de data de conclusão e três que tinham a indicação de que iam terminar mais tarde do que o inicialmente previsto por motivos imprevistos - Largo de Santos, Largo da Graça e Rua de Campolide, todas iniciadas em maio e todas com final previsto para outubro.

Na resposta por email, que chegou no feriado 1 de dezembro, estas três obras tinham já a indicação de que iriam estar concluídas no primeiro trimestre de 2017, sem qualquer referência a atrasos. Nesse dia o DN voltou a consultar o site da autarquia onde já não estavam os dados sobre os prazos que não iam ser cumpridos, mas apenas a nova data que constava na resposta. Num posterior esclarecimento, por telefone, foram indicado os motivos dos atrasos nas três obras, mas não foi dada nenhuma explicação em relação ao facto de a CML já não reconhecer a derrapagem nos prazos.

Segundo, a autarquia as obras no Largo da Graça estão atrasadas porque também começaram mais tarde, a pedido da Junta de Freguesia "por causa dos arraiais dos santos populares e pela descoberta arqueológica do troço da muralha Fernandina". Já no Largo de Santos o adiamento do prazo aconteceu porque "a EDP aproveitou para executar obras que não estavam previstas e a circulação do elétrico obrigou a corrigir um lancil". Em Campolide, "a Carris solicitou um percurso alternativo a atravessar um percurso pedonal".

O DN tentou perceber junto da autarquia e do vereador das obras municipais, Manuel Salgado, a justificação para esta alteração, mas não obteve resposta.

Oposição já esperava atrasos

A oposição na câmara não ficou nem surpreendida com os atrasos, nem com as alterações das datas. "Têm feito isso, são inúmeras as situações, vão alterando as datas no site à medida que lhes é conveniente", aponta o vereador João Gonçalves Pereira, do CDS. Dando como exemplo, "a obra de Sete Rios, de que o CDS é absolutamente contra, foi anunciada aos moradores que iria ser iniciada em março e já estamos em dezembro", aponta o vereador centrista.

Para o PSD, a mudança de datas sem indicação de que não se está a cumprir o prazo inicial "é sobretudo mau sinal, sinal de pouca transparência e de pouca seriedade na relação com os munícipes". António Prôa sublinha ainda que "essa predisposição para encobrir a verdade não é uma surpresa, e já aconteceu com a suspensão das obras na segunda circular, onde se tentou disfarçar a situação para não assumir erros".

Também o PCP considera que as mudanças nas datas de conclusão "são sempre o reconhecimento dos atrasos". O vereador Carlos Moura acrescenta também que "só por muita ingenuidade é que se poderia pensar que estas obras iam estar concluídas nestes prazos".

Para justificar os atrasos, os vereadores da oposição concordam que tem a ver com a quantidade de obras em simultâneo. "A previsão inicial foi considerada muito otimista. Misturaram-se obras que eram necessárias, com outras que eram só de fachada e naturalmente emaranharam-se umas situações nas outras", aponta Carlos Moura. Para António Prôa, o executivo teve "mais olhos que barriga e foi além da sua capacidade de acompanhar as obras".

Opinião partilhada pelo autarca centrista: "Isto tem a ver com a falta de planeamento de fazer todas as obras ao mesmo tempo. O CDS não é contra obras em Lisboa, elas são necessárias, não era necessário fazer todas ao mesmo tempo." Um conjugação de obras ligada "a um calendário eleitoralista", acrescenta João Gonçalves Pereira.

Mas que pode vir a prejudicar o executivo de Fernando Medina. Pelo menos é essa a opinião do vereador comunista. "A falta de estratégia de planeamento do executivo da câmara, tem os claros inconvenientes porque todas estas obras acabaram por criar um imenso emaranhado e a própria imagem da câmara se está a ressentir pelo atraso em algumas obras." Apesar de considerar que "no limite esta situação se pode virar contra o executivo", António Prôa está convencido que as obras estarão concluídas antes da campanha eleitoral autárquica começar, evitando "um prejuízo merecido" a Fernando Medina.

Com o Natal à porta, os comerciantes receiam que as dificuldades no trânsito e estacionamento afastem os compradores do comércio tradicional. "A cidade está caótica para chegar de um lado ao outro, há sempre imenso trânsito, há zonas onde não há estacionamento, onde não há cargas e descargas por causa das obras e estamos a entrar na época forte de Natal. Se as pessoas demorarem muito tempo a chegar, acabam por desistir", refere Carla Salsinha, da União de Associações do Comércio e Serviços. A responsável frisa que um dos pedidos que têm feito à câmara é para que "cumpram os prazos".

Quem não se sente incomodado com as obras são os turistas. Pelo menos tendo em conta as queixas - ou neste caso a falta delas - que chegaram ao Turismo de Lisboa.

Segundo o calendário que foi disponibilizado pela CML, a cidade vai ter obras, pelo menos, até ao final do primeiro semestre, sendo que a maioria terminará no final do primeiro trimestre.

Reação

A Câmara Municipal de Lisboa adiantou esta manhã ao DN que no seu site, na área reservada da obra do Largo da Graça está, além da data de início e final das obras, o folheto explicativo da intervenção onde está o prazo previsto para a conclusão: 150 dias.

[Notícia atualizada às 12:45]

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