Calçado. Consumo mundial vai crescer entre 1,5 e 5% em 2022 

Inquérito do World Footwear, projeto da associação APICCAPS para avaliação das grandes tendências no setor do calçado, mostra que 44% dos inquiridos prevê aumentar o número de trabalhadores e só 5% admite reduzir.
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O consumo mundial de calçado deverá crescer "de forma moderada" em 2022, acreditam os especialistas do setor. Um inquérito elaborado pelo World Footwear mostra que as expectativas apontam para um intervalo de crescimento entre os 1,5 e os 5% comparativamente ao período pré-pandemia.

Mas há comportamentos distintos consoante as regiões do globo: a Europa é das que deverá crescer menos, com um aumento esperado de 1,8% no consumo de calçado; pior só o continente africano, onde se espera que as vendas possam crescer 1,2% ou a América do Norte, onde as previsões apontam para uma quebra no consumo de 3,6%. Em sentido oposto, estão a Oceânia, com 3,3% de crescimento previsto, a América do Sul, com 3,2%, e a Ásia, com 2,4%.

A Europa e os Estados Unidos são as grandes apostas da indústria portuguesa, que exporta mais de 90% do que produz. E, por isso, a assunção de uma "postura mais moderada" nestes mercados "não é uma boa notícia" para o calçado português, reconhece o diretor de comunicação da APICCAPS - Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes, Artigos de Pele e Seus Sucedâneos.

Já o relatório Business Conditions Survey, reconhece que 2020 foi um ano "muito difícil para os negócios", mas que as estatísticas mais recentes do comércio mundial de calçado mostram uma "imagem edificante" de recuperação no primeiro semestre de 2021. O estudo dá conta que as últimas projeções do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial apontam para que em 2021 o produto interno bruto mundial registe o maior crescimento dos últimos 80 anos, mas lembra que "os obstáculos à vacinação e as novas vagas da pandemia podem criar dificuldades à recuperação económica mundial".

Os dados do inquérito são, apesar de tudo, "otimistas", já que a maioria dos inquiridos acreditam que, nos próximos seis meses, se assistirá a um aumento na quantidade de sapatos vendidos, mas, também, a um acréscimo nos preços, "o que é uma evolução positiva comparativamente com as perspetivas de há alguns meses", sublinha o estudo. Significativo também é que a quase seis em cada dez questionados espera que a saúde dos seus negócios se mantenha "forte" ou mesmo "muito forte" nos próximos meses.

A sustentar a visão positiva do futuro estão as previsões ao nível do emprego. É que 44% dos inquiridos admitem que irão contratar, um valor que compara com os 5% que acreditam que terão de reduzir as suas equipas. As pequenas organizações, com menos de 50 trabalhadores, são as menos otimistas quanto ao futuro.

Mas nem tudo são boas notícias e há nuvens negras no horizonte. É que a retoma da procura acontece numa fase de disrupção nas cadeias de abastecimento globais, o que está a pressionar o setor. O custo dos materiais e das matérias-primas, bem como a falta de recursos humanos, são agora as principais dificuldades apontadas, com 84% e 43% das respostas, respetivamente. Já a procura insuficiente no mercado interno caiu para terceiro lugar nas preocupações e é apontada por 20% dos especialistas, a mesma percentagem dos que temem vir a ter dificuldades financeiras.

"A escassez de mão-de-obra, que afeta atualmente vários setores de atividade, é um grande problema e condiciona, naturalmente, a recuperação económica. Há ecos de dificuldades de contratação de colaboradores em empresas chinesas", diz Paulo Gonçalves. Na Europa, a fileira da moda estima que precisará, no espaço de uma década, de 500 mil pessoas. "Este é um problema de fundo que se está a aprofundar e precisa de ser abordado já", defende.

Em setembro, e no âmbito da visita à Micam, a feira de calçado em Milão, o presidente da APICCAPS, Luís Onofre, sugeriu ao secretário de Estado da Economia a criação de apoios estatais, nomeadamente na comparticipação de rendas, que fomentem a transferência de famílias para distritos onde a oferta de emprego existe, mas não há mão-de-obra disponível. Defende, ainda, a integração de refugiados.

Quanto aos preços, os especialistas acreditam que o preço médio do calçado exportado deverá crescer 20% até 2025, para cerca de 12,35 dólares o par. Atualmente, o preço médio de exportação mundial é de 10, 37 dólares, o que corresponde a um aumento de 33,8% face a 2011, quando se situava nos 7,75 dólares. Há que ter em conta que a China tem uma quota de mais de 60% das exportações mundiais de calçado e o seu preço médio é de 4,79 dólares, que compara com os 60,43 dólares dos sapatos italianos ou dos 27,80 dólares do calçado português que, a par do México, diz o World Footwear, são os únicos dois países com um preço médio de exportação acima dos 20 dólares.

Por fim, e a propósito da transição energética, e dado que a União Europeia pretende atingir a neutralidade carbónica até 2050, o estudo procurou perceber quais são as perspetivas da indústria do calçado nos respetivos países e os resultados são bastante díspares. É que 34% dos especialistas acreditam que a meta será alcançada, enquanto 30% acham que levará mais tempo a chegar lá. Há 16% de otimistas a defender que a neutralidade carbónica poderá ser atingida antes de 2050, mas há 20% que defende que o setor do calçado, por si só, não conseguirá nunca ser neutro em emissões de carbono.

"A indústria como um todo não avança à mesma velocidade. Importa perceber, em detalhe, o que estão a fazer o diversos players. No caso de Portugal, temos em curso um plano de ação ambicioso, que envolve mais de 70 entidades e pressupõe mais de 50 medidas, que pretende fazer da nossa indústria uma referência internacional no desenvolvimento de soluções sustentáveis", frisa Paulo Gonçalves.

O inquérito, realizado junto do painel internacional de especialistas do World Footwear, o projeto de avaliação de macro tendências do setor promovido pela APICCAPS, foi realizado durante o mês de outubro e contou com 122 respostas válidas, sendo 43% delas oriundas da Europa, 30% da Ásia, 13 e 7%, respetivamente, da América do Norte e do Sul, 6% de África e 1% da Oceânia. Em termos de atividades, metade dos inquiridos são fabricantes de calçado e 31% são comerciantes. Há ainda 19% de respostas de especialistas ligados a associações e entidades consultoras.

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