Caju, o ouro do país que sai sem valor acrescentado
Há 40 anos, quando José Rocha era motorista da Embaixada do Brasil, a Guiné-Bissau tinha 22 mil hectares de cajueiros. Hoje a área será 12 vezes maior, tendo em conta os dados da Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO) das Nações Unidas. A Guiné-Bissau é hoje um dos maiores produtores mundiais de castanha do caju e o principal produto de exportação do país. "No fundo é o nosso ouro", classifica o porta-voz do governo Fernando Vaz, que coloca o país no quinto posto de exportadores (o primeiro é a Costa do Marfim).
O lado negativo é que o produto que sustenta a maior parte das famílias guineenses é exportado para a Índia, Vietname ou China para depois ser processado, ou seja, é descascado e depois torrado ou transformado, e por fim vendido para consumo interno ou para outros mercados com a Europa ou os Estados Unidos. O valor acrescentado é inexistente. O problema é transversal em África, apesar de que na Costa do Marfim há planos para que a partir deste ano a capacidade transformadora do caju passe de 10% para 40%.
"Há uma política que não ajuda a população. Quem vem oferece preços baixos e os intermediários dizem que não conseguem dar mais", queixa-se José Rocha. Fernando Vaz diz por sua vez que os intermediários guineenses são cada vez menos porque, como atividade que envolve riscos na compra antecipada da safra, alguns caem em incumprimento e são substituídos pelos empresários estrangeiros, que compram diretamente. "O Estado acaba por ganhar muito pouco. Por isso é que no nosso programa há projetos de transformação de castanha, porque há uma política de substituição das exportações por produtos já com valor acrescentado", diz o também ministro do Turismo.
A importância do caju na Guiné-Bissau é tanta que Fernando Vaz justifica o porquê das estradas por asfaltar na capital. "Herdámos um país sem estradas. Começámos a produzir um produto agrícola que era preciso escoar, então optou-se por fazer as estradas que ligam as principais vias de produção, da agricultura ao porto de Bissau, e deixou-se as cidades."