"Caixa B" do PP. Aznar e Rajoy prestam contas

Ex-líderes do Partido Popular são testemunhas no processo do ex-tesoureiro Luis Bárcenas, que apontou o dedo a Rajoy
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Os antigos primeiros-ministros espanhóis José María Aznar (1996-2004) e Mariano Rajoy (2011-2018) são esta quarta-feira ouvidos como testemunhas no julgamento sobre a alegada existência, durante anos, de uma contabilidade paralela no Partido Popular, que lideraram entre 1990 e 2018. Se no caso do primeiro é uma estreia em tribunal para falar do tema - apesar de já ter negado numa comissão de inquérito no Congresso a existência da chamada "caixa B" do PP - no caso do segundo será a segunda vez. Por causa da covid-19, os testemunhos serão por videoconferência e nenhum estará presente na Audiência Nacional.

Em julho de 2017, o então primeiro-ministro Rajoy negou em tribunal ter alguma vez recebido dinheiro ilegal do PP e que o partido, que liderava desde 2004, tivesse recebido subornos de empresários em troca da adjudicação de obras públicas. Sobre os chamados "papéis de Bárcenas", os documentos do tesoureiro Luís Bárcenas que indicavam que tanto Rajoy como outros altos cargos tinham recebido dinheiro dessa "caixa B" (seria um suplemento de salário visto que, como ministros, recebiam abaixo do que até então), disse que eram "absolutamente falsos".

As declarações não convenceram, porque o tribunal que julgava o esquema de corrupção Gürtel (rede de corrupção liderada pelo empresário Francisco Correa que envolvia vários eleitos do PP, como o presidente da Comunidade Valenciana, Francisco Camps) acabou por concluir que tinha existido uma contabilidade paralela no PP a partir de 1989. Essa seria a gota de água que levaria o socialista Pedro Sánchez a apresentar a moção de censura que afastaria Rajoy do governo, em junho de 2018.

Mas o problema não acabou aí. Bárcenas foi condenado a 29 anos de prisão e a sua mulher, Rosalía Iglesias, a 12 anos. O ex-tesoureiro do partido, que tinha mantido o silêncio, resolveu então começar a colaborar com os procuradores, alegando que intermediários do PP lhe tinham garantido que a sua mulher não iria presa e que receberia 500 mil euros se não falasse.

A situação piorou ainda mais para Rajoy quando agora, no julgamento centrado nas obras de renovação da sede do PP (que terão sido pagas com a "caixa B"), Bárcenas admitiu não apenas que havia uma contabilidade paralela, como que tinha informado pessoalmente Rajoy, a quem no passado tinha também entregado envelopes com dinheiro. A certa altura, o então primeiro-ministro terá pegado nos documentos da "caixa B", sem saber que eram cópias, e destruído tudo numa trituradora. Rajoy, apesar de ser testemunha, deverá ser confrontado com estas acusações.

Por seu lado, Aznar foi líder do PP entre 1990 e 2004, ou seja, quando surgiu a "caixa B" - na altura o tesoureiro era Álvaro Lapuerta (não foi julgado por estar demente e morreu em 2018). E há testemunhas que dizem que Aznar, atual presidente da Fundação FAES (ligada ao PP), autorizou pagamentos que aparecem nos papéis de Bárcenas. Esta será uma semana chave no julgamento, com outros nomes forte do PP a testemunhar.

susana.f.salvador@dn.pt

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