Cadeia de Coimbra vende canivetes a reclusos

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Segurança. Tem quatro centímetros de lâmina e pode ser letal. O canivete, conhecido como 'chino', é vendido a cinco euros na cantina pelos serviços do Estabelecimento Prisional de Coimbra

Há também casos de tráfico de droga e de telemóveis

É conhecido como "chino". Tem quatro centímetros de lâmina e dez de comprimento, incluindo o cabo. Trata-se de um pequeno canivete vendido na cantina, a menos de cinco euros cada, para que os reclusos possam, por exemplo, cortar alimentos. Só que isto passa-se no Estabelecimento Prisional de Coimbra e, perante ameaças e desavenças, o "chino" pode e é usado como arma.

Ainda na quinta-feira, um recluso romeno, a cumprir pena pelo homicídio de um taxista em Lisboa, foi parar ao hospital devido a cortes que sofreu com um "chino".

Internamente, ao que o DN apurou junto de funcionários de diversas categorias profissionais, a venda deste pequeno canivete é vista com total incompreensão e o medo chega a apoderar-se de quem ali trabalha. Cada recluso pode comprar um "chino". "Como se entende isto numa cadeia de alta segurança?", questionou uma das fontes.

Num local onde os conflitos podem acontecer a qualquer momento, com o "chino" à mão, tudo se poderá precipitar para uma escalada de violência com contornos mais graves, reconhece outra fonte. Mas se esta pequena arma branca - "que se for utilizada no sítio certo pode matar" - é vendida pelos serviços da cadeia, já a droga e os telemóveis são mercadoria que, alegadamente, entra por vários circuitos e que atinge um elevado valor monetário.

Várias fontes contactadas pelo DN explicam as diversas formas engenhosas de entrada da droga e dos telefones móveis. Se a droga pode ser arremessada da rua, do lado do Jardim da Sereia, directamente para o pátio do recreio da cadeia de alta segurança, então há quem coloque a imaginação a funcionar: primeiro, divide-se uma bola de ténis ao meio, coloca-se a droga numa das metades, depois de devidamente colada, e com areia para ficar mais pesada no arremesso, atira- -se, da Rua de Tomar, para o recreio.

Para salvaguardar esta e outras situações, foi estabelecida uma ronda matinal dos guardas prisionais, para descobrir se alguma coisa foi atirada pela calada da noite. Mas, soube o DN, a vigilância mantém-se atenta à possibilidade de entrar droga dissimulada em pacotes de bolachas ou no pão. Outra forma de introdução, é a troca de um beijo mais apaixonado com a mulher ou companheira que leva na boca a droga dentro de um preservativo. O preso engole e, como o preservativo é mais resistente que um simples plástico, a droga chega ao destino incólume. O corpo das mulheres e o cabelo é, aliás, muitas vezes usado para introduzir a droga na cadeia.

Uma vez dentro da prisão, surge uma outra fase. Esconder os estupefacientes. Mais uma vez, a imaginação dos reclusos torna-se um quebra-cabeças, pois desde as embalagens dos dentífricos até às de lixívia, tudo serve. Note-se que, nestes casos, as embalagens continuam sempre a ter a sua função original.

Há, no entanto, outro bem muito precioso dentro de um estabelecimento prisional e, na cadeia de alta segurança de Coimbra, tal não foge à regra: o telemóvel. E se para introduzir os aparelhos tudo serve, desde engenhosas formas de dissimulação em tubos, até outras formas menos sofisticadas, surge, de novo, o desafio: Como escondê-los da segurança da prisão? Os dois exemplos relatados ao DN voltam a desafiar a capacidade de imaginação, pois "eles furam a madeira, ou colocam-nos dentro de um saco de plástico que a seguir é pendurado com um fio de pesca no autoclismo". Assim, fora do controlo da segurança, há ainda a possibilidade de vender os aparelhos a outros reclusos.

Nos últimos anos, apareceu uma nova preocupação: os presos fazem uma bebida alcoólica à base de fruta. A fermentação obtida, que é maioritariamente apreciada pelos presos da Europa de Leste, provoca alterações no comportamento dos reclusos, levando uma fonte a dizer ao DN que "qualquer dia há que repensar o consumo da fruta dentro da cadeia".

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