Cacarejos, penas e muita cor encantam os mais pequenos

Publicado a
Atualizado a

A "cócórócó...fonia" desde logo faz suspeitar o caos. Mas a confusão não se trata neste caso de uma simples gripe das aves. A algazarra desta vez é outra! As galinhas, e galos, estão de quarentena, isolados e sozinhos, mas a desordem deve-se... a um poleiro. Ora, nem mais! No Auditório Carlos Paredes, a pacatez de uma vida rural foi perturbada por esse objecto estranho que rapidamente faz nascer a ambição e a insatisfação no oásis aviário.

Isto porque nesta história, a Besnica Bumbum, a Felícia Papinhos, o Gustavo Moelas e o Sustelo Peninhas são galináceos com personalidade e carácter que convidam as crianças a uma viagem pelo seu mundo invulgar, acompanhando a trama do início ao fim. "Atrás de ti, atrás de ti!", gritam as crianças da plateia para o Gustavo Moelas, prestes a ser surpreendido pelo seu companheiro de "gaiola".

Nesta peça todos podem participar, e a plateia de palmo e meio reage espontaneamente a essa interacção. Em palco estão Carlos Cosenza, Cristina Basílio, Margarida Borges e Pedro Cardoso. A linguagem é divertida, musical, talvez porque quase sempre em rima, mas nem por isso abebézada. Como Mário Jorge, o autor, encenador e cenógrafo, salienta. "Quando escrevo uma peça não posso pensar que é para crianças. E digo o mesmo aos actores. Não queremos fazer um teatro apatetado, que apenas divirta, e para isso não deve haver uma minoração da linguagem." O certo é que, apesar de esta ser uma peça com uma abordagem diferente da maioria das peças infantis, não deixa de atrair a criançada e de lhe roubar gargalhadas, ao longo dos 60 minutos que está em palco.

A "receita" é "que não há receita. Temos um tema e depois adaptamo-lo", diz Mário. O nós são os Papa-Léguas, o grupo de teatro de animação a que Mário Jorge se dedica desde a sua origem, vai fazer 30 anos. Falar de tudo, usando uma linguagem normal, é uma das características do grupo, que nem por isso perde em alegria, cor e sorrisos. "Por vezes há pais ou educadores que ficam chocados com coisas que os personagens dizem ou com alguma cena em que morre alguém, porque acham demasiado agressivo para as crianças. Mas nós achamos que criar sensações não é mau. Só não podemos ultrapassar os limites e correr o risco de horrorizar o espectador", explica o encenador. A função social é o que move este grupo de teatro, levando as pessoas a pensar.

Por isso a peça encontra-se cheia de simbologia. Não é por acaso que o poleiro entra neste conto. Em ambiente de ciclo eleitoral, Mário Jorge começou a reflectir sobre o modo como as pessoas se transformam perante o poder. Daí a metáfora do poleiro, espécie de palanque onde cada um se autopromove. "O galinheiro representa o estado do País, a algazarra em que se tornou. E ou alguma coisa muda, ou teremos de fugir do galinheiro", como as galinhas o fazem no final. Para as crianças isto passa despercebido, mas também "não é preciso que elas percebam tudo. Por vezes, estamos de tal maneira embalados que deixamos escapar uma ou outra coisa, que acaba por não fazer diferença, pois o momento mais importante é o que nos faz voar", diz Mário Jorge.

A Algazarra no Galinheiro pode ser vista de segunda a quinta, às 11.00 e às 14.00 (grupos escolares, sob marcação) e sábado, às 16.00. Até 21 de Dezembro no n.º 17 da Av. Gomes Pereira, em Benfica.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt