Butão. O país mais feliz do mundo

Mala de viagem (31). Um retrato muito pessoal do Butão.
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Sabia de antemão que este é considerado o país mais feliz do mundo. Esse epíteto remonta a um discurso do Quarto Rei do Butão, Jigme Singye Wangchuk, que mencionou que a "Felicidade Nacional Bruta é mais importante do que Produto Interno Bruto". Esta denominada "terra do dragão" é localizada no sul da Ásia, no extremo leste dos Himalaias. Faz fronteira a norte com a China e a sul, leste e oeste com a Índia. Mais a oeste, está separado do Nepal pelo Estado indiano de Siquim, enquanto mais a sul está separado de Bangladesh pelos Estados indianos de Assam e Bengala Ocidental. A entrada é gratuita para os cidadãos da Índia e do Bangladesh, mas os estrangeiros de outros países são obrigados a inscrever-se com um operador turístico butanês e pagar cerca de 250 dólares americanos por cada dia em que se permanecer no reino da felicidade. O voo até à cidade de Paro é um dos mais espetaculares que se pode fazer dentro da região dos Himalaias, vindo de Calcutá, com uma paisagem alucinante. Na chegada ao aeroporto, nota-se o ar fresco e limpo vindo das montanhas que rodeiam a cidade. O Butão tem vales em cor de esmeralda, plantações de arroz, palácios e casas de cores vivas, mosteiros empoleirados em ravinas íngremes e o sorriso das suas gentes. Neste território podemos falar da capacidade de carga, tema de que falo aos meus alunos do curso universitário em turismo. As entradas de turistas são reguladas pelo Governo butanês, a fim de evitar que o número de estrangeiros seja maior do que aquele que o país possa acolher. O povo é muito protetor da sua cultura e das suas tradições, e o turismo é adaptado para manter intactos os seus interesses. Essencialmente, a ideia da visita ao Butão foi ver de perto o mosteiro encravado num desfiladeiro, embora a capital Thimphu fique somente a 23 quilómetros. A ideia era partir depois para Katmandu, no Nepal, a partir do aeroporto de Paro. A aventura seria penosa até ao seiscentista Mosteiro de Takshang ("ninho do tigre"), localizado na boca da caverna Taktsang Senge Samdup, a 3120 metros de altitude. A agência butanesa avisou-me de que eu podia ir a pé até ao topo ou, alternadamente, montado numa mula. O trajeto até ao mosteiro dura duas horas. O costume é fazer a primeira metade contratando um serviço de mulas, mas eu fiz todo o trajeto a pé, condoído pelo esforço dos animais. A altitude provoca mais cansaço e sentimos falta de ar. A guia que nos acompanhou tranquilizou-nos e acompanhou o nosso passo, por vezes cantando. A chegada ao topo foi uma recompensa incrível: um local silencioso, tranquilo e com uma energia positiva, onde se sente uma paz dominadora. De que é preciso, afinal, para se viver? Sorrir e agradecer pelas pequenas coisas, aquelas que nos fazem felizes, aquelas que, mesmo sem valor material, valem uma vida. Aqui aprende-se a lição.

Jorge Mangorrinha, professor universitário e pós-doutorado em turismo, faz um ensaio de memória através de fragmentos de viagem realizadas por ar, mar e terra e por olhares, leituras e conversas, entre o sonho que se fez realidade e a realidade que se fez sonho. Viagens fascinantes que são descritas pelo único português que até à data colocou em palavras imaginativas o que sente por todos os países do mundo. Uma série para ler aqui, na edição digital do DN.

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