Business as usual?!

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Andando às voltas com a magna questão de compreender como é que o Turismo, especialmente no muito que depende da aviação, pode colaborar para a redução das emissões de carbono, fui parar à declaração final da COP 26 subscrita em Glasgow a 13 de Novembro de 2021.

Parêntesis: a Conferência das Partes (COP - Conference of the Parties) é o órgão supremo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, adotada em 1992, no Rio de Janeiro. Sim, foi já há 30 anos que os dirigentes mundiais se reuniram pela primeira vez para dar uma resposta coletiva à questão das alterações climáticas. Nesta convenção sobre o clima, cada país signatário se comprometia a reduzir as emissões de gases com efeito de estufa, avaliando a situação das mudanças climáticas no planeta e propondo mecanismos a fim de garantir a efectividade da dita convenção.

Das muitas reuniões dos dirigentes mundiais sobre o tema que se seguiram desde 1995, uma das COP mais conhecidas foi a 21, em 2015, que levou ao Acordo de Paris, tratado internacional vinculante sobre mudanças climáticas, que rege as medidas de redução de emissões de gases estufa, a fim de conter o aquecimento global abaixo de 2°C - preferencialmente em 1,5°C - e reforçar a capacidade dos países de responder ao desafio, num contexto de desenvolvimento sustentável.

Fechado o parêntesis, independentemente dos muitos juízos, dos pontos fracos e fortes (?) da COP 26 - entre os que acusaram os dirigentes mundiais de muito "blá blá blá" (Greta Thunberg dixit) e zero compromisso com ações concretas e os que consideram que, apesar de desapontantes resultados, foram alcançados consensos de princípio entre os 198 países signatários -, há algo que impressiona. É que, lendo as oito páginas da Declaração Final, sabem quantas vezes é referida a palavra "business"? Nem uma!

Como assim? No meio das declarações de princípio; reconhecimento da gravidade da situação; expressões de alarme e grandes preocupações, nem uma só vez se sublinha a necessidade de coenvolvimento dos agentes económicos que, sendo os grandes causadores do aquecimento global, são também aqueles que necessariamente têm de se cativar, envolver e comprometer na luta contra as alterações climáticas. E eles estavam lá: desde as grandes produtoras de alimento, às de energia (e só a produção de energia é responsável, direta e indiretamente, por 70% das emissões de gazes com efeito estufa).

Não creio que haja outra explicação senão o facto de este documento ser, de facto, apenas e só um compromisso para a fotografia política. Não um compromisso para com os cidadãos do mundo. Não um compromisso no trabalho conjunto e na definição de um caminho com metas e objetivos mensuráveis.

Felizmente muitas e muitas empresas perceberam a mensagem e estão a agir no bom caminho, até, diga-se, em interesse próprio e da sustentabilidade do negócio.

E a nível da UE é extraordinário o compromisso assumido a 27 no Green Deal.

É claro que haverá green washing. É claro que muitos ambientalistas dirão que não é suficiente. Mas é um sinal, um compromisso, uma meta.

Devemos ainda orgulhar-nos porque muitas empresas portuguesas estão claramente na linha da frente. Para lá de empresas do setor da energia, na vanguarda da transição energética a nível mundial, também empresas agrícolas e industriais estão empenhadas na mudança dos seus modelos de negócios e dos seus processos de produção para um paradigma mais sustentável, até porque sabem que a prazo a continuação no mercado exige precisamente que se adaptem a modelos hipocarbónicos.

Portanto, não. Apesar do que a COP 26 deixou por dizer e fazer, apesar da crise que a guerra na Ucrânia precipitou, para as empresas não continua tudo como dantes. Business is not as usual. Nunca mais.

CEO da AHP - Associação da Hotelaria de Portugal

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