Bush profere hoje discurso sobre Estado da União

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Segurança Social e Coreia do Norte estes deverão ser dois dos temas dominantes do discurso sobre o Estado da União que o Presidente dos EUA irá proferir hoje. Apenas três dias depois das eleições no Iraque, George W. Bush poderá também mencionar abertamente o "sucesso estrondoso" registado no país que decidiu invadir em 2003, ao contrário do que fizera no dia 20, aquando do discurso de tomada de posse para o segundo mandato presidencial, em que nunca referiu a palavra "Iraque".

Ainda não é um dado adquirido, porém, que decida já avançar com qualquer data para a retirada do contingente de 150 mil militares americanos do Iraque, atendendo à falta de preparação das forças de segurança iraquianas e às garantias da insurreição de que tenciona manter a jihad ("guerra santa"). Em princípio, segundo analistas, optará por falar dos resultados da sua luta pessoal contra a "tirania" no mundo, num itinerário com paragens no Afeganistão, Palestina, Geórgia e Iraque.

Falará de sacrifícios, pela certa, apelando ao patriotismo dos seus concidadãos, numa altura em que o conflito iniciado em 2003 absorve mil milhões de dólares por dia dos cofres americanos e em que o sistema de Segurança Social, definitivamente, já não é o que era. "Menina dos olhos" dos Democratas, ou não tivesse sido instituído, em 1935, por um ícone da actual oposição - o Presidente Franklin Delano Roosevelt -, o sistema está, a fazer fé nas palavras de Bush, a rebentar pelas costuras, ameaçando atingir a bancarrota em 2042.

A opinião pública americana exige, no entanto, explicações mais detalhadas sobre o que pretende fazer no seu segundo mandato, explicações que extravasem a conjuntural sugestão de que os trabalhadores mais jovens canalizem parte dos seus descontos da Segurança Social para contas de poupança individual, geridas pelo sector privado. No fundo, explicar como fará a quadratura do círculo, atendendo a que já declarou não tencionar aumentar os impostos para cobrir as graves deficiências do sistema, mas que não pretende ser ele o autor do epitáfio da Segurança Social. Tudo isto numa altura em que se adensam as suspeições, alimentadas pelos Democratas, de que a sugestão presidencial visa, tão-somente, compensar os banqueiros de Wall Street - seus fiéis apoiantes -, ansiosos por gerirem as poupanças dos trabalhadores mais jovens.

Na dúvida, os Democratas vão mesmo mais longe, abalançando-se a cenários catastróficos. Questionam o que acontecerá a essas poupanças se se registar um crash da Bolsa americana? E, antes disso, o que acontecerá aos reformados beneficiários do actual sistema se surgir, como antecipam alguns analistas, um "buraco" financeiro de, pelo menos, dois biliões de dólares, por estarem a ser desviadas elevadas verbas para o sector privado?

No plano da política externa, George W. Bush não terá tantas dificuldades, porém, até porque a participação nas eleições iraquianas superou todas as expectativas. Presumivelmente, as suas próprias. Depois de não se ter cansado de falar com alguns dos seus homólogos mais críticos sobre o corolário democrático da via que decidiu encetar no Iraque, deverá surgir hoje como um estadista magnânimo e conciliador. Palavras truculentas deverão estar afastadas do seu discurso. Só não estarão se der ouvidos aos chamados "falcões" da sua Administração, os políticos fortemente permeáveis ao poderoso lobby armamentista que, ciclicamente, vão renovando a lista de alvos a derrubar (anulado o Iraque, há já quem fale na necessidade de intervir militarmente no Irão, na Síria e na Coreia do Norte).

Aliás, Pyongyang deverá ser das capitais mais atentas ao seu discurso. Depois de ter sido catalogada por Bush, em 2002, como um dos vértices do "Eixo do Mal", juntamente com Bagdad e Teerão, aguarda uma inflexão da Casa Branca, um gesto de boa vontade susceptível de a levar a reatar as negociações sobre o programa nuclear, suspensas em Setembro de 2004. Essa é também a vontade dos outros parceiros envolvidos no processo negocial China, Japão, Rússia e Coreia do Sul.

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