Bush-Clinton-Bush-Clinton
Já houve dois Adams na Casa Branca. E dois Harrison. E também dois Roosevelt. E ainda dois Bush. Curiosamente, também já houve dois Clinton. E agora parece haver fortes hipóteses de um terceiro chegar lá. Tudo depende da forma como Hillary Clinton, actual senadora por Nova Iorque e ex-primeira dama, gerir estes 22 meses de campanha que faltam até às eleições presidenciais de Novembro de 2008. Para já, parte favorita para a nomeação democrata, ficando tranquilamente à espera que os republicanos decidam o seu candidato, em princípio o senador John McCain ou o ex-mayor Rudy Giuliani.
Hillary tornou-se em 2000 a primeira antiga primeira dama a ser eleita para um alto cargo público. Eleanor Roosevelt, apesar de todo o seu carisma, limitara-se a ser embaixadora na ONU, uma missão importante, mas obtida por designação, não pelo voto. Agora, Hillary ambiciona mais. Se for a primeira mulher a conquistar a Casa Branca, garantirá um lugar na história e de primeiro plano.
A mulher de Bill Clinton sabe que, em política, o apelido é uma mais-valia, mas também eventual desvantagem. Afinal, quantos americanos estarão convencidos a deixar os Bush e os Clinton alternarem na presidência? Quantos não acharão bizarra a sequência Bush- -Clinton-Bush-Clinton? Depois da vitória de George Bush em 1988, das de Bill Clinton em 1992 e 1996 e das de George W. Bush em 2000 e 2004, seguir-se-á o triunfo de Hillary? Desde a era Kennedy que é evidente que a América aprecia as dinastias. Até que ponto?
Na memória mais recente, o apelido Kennedy é, de facto, aquele que melhor simboliza a ideia de dinastia política em terras americanas. Afinal, John Kennedy, o célebre JFK, foi senador e presidente. O seu irmão Robert foi senador, procurador-geral e candidato à presidência. Outro irmão, Ted, senta-se no Senado há meio século. E mais membros do clã estão na política - Robert Kennedy Jr., por exemplo, já disse que se Hillary chegar à Casa Branca procurará substituí-la no Senado.
Mas desde o século XVIII que as dinastias fazem parte da república americana. John Adams, o segundo presidente, era pai de John Quincy Adams, o sexto homem a ocupar a Casa Branca. William Harrison e Benjamin Harrison, outros dois presidentes do século XIX, eram avô e neto. E Theodore Roosevelt era primo em quinto grau de Franklin (e curiosamente tio de Eleanor, a mulher deste).
A força dos apelidos vale muito em política e os Estados Unidos estão longe de ser a excepção, basta pensar nos Nehru-Gandhi na Índia. Crescer numa família política aguça a ambição pelo poder e traz, além de colaboradores experientes, uma grande capacidade para conseguir financiamentos. George W. Bush é um excelente exemplo disso. Até foi buscar à Administração do seu pai muitas das figuras que hoje o acompanham, a começar pelo vice-presidente Dick Cheney.
Hillary, que tem um perfil bem mais brilhante que Bush filho, beneficia das mesmas vantagens. Afinal o marido é o seu melhor conselheiro político e a etiqueta Clinton vale milhões. Na última campanha para o Senado, sobraram-lhe 14 milhões. E sabe-se quanto é importante o peso dos dólares numa desgastante corrida eleitoral como é a americana. Longe vão os tempos em que as eleições não eram duelos milionários. Como esse início de século XIX em que George Clinton (coincidência de nome, sem ligação a Bill ou Hillary) falhou a presidência e teve de se contentar em ser vice de Thomas Jefferson.