Burros de Miranda levam animação à Baixa de Lisboa

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Vieram à janela, saíram das suas casas, trouxeram filhos e netos, pararam o trânsito, treparam árvores e acotovelaram-se uns aos outros. Tudo isso só porque soltaram ontem os burros de Miranda do Douro nas ruas de Lisboa.

Os animais fizeram uma longa viagem para escoltar os pauliteiros e os gaiteiros, que durante ontem e hoje comemoram, na capital, o fim-de-semana dedicado aos Trás-os-Montes.

Ontem à tarde, Lisboa não foi nem dos carros nem transportes públicos. Do Castelo de São Jorge até ao Chiado todos deram prioridade aos visitantes. E ninguém resmungou.

Houve até quem saísse do automóvel, quem largasse a loja e os clientes e quem deixasse o café a meio para ver de perto a arruada, que percorreu o Largo de Santa Luzia, a Rua da Madalena, a Rua Augusta e o Rossio.

Os animais de Miranda do Douro surpreenderam a maioria dos miúdos da cidade, que pela primeira vez que tocaram num burro de carne e osso.

Quem chegou cedo ao Castelo de São Jorge foi devidamente apresentado a cada um deles a Montanha, que gosta de implicar com o Lourenço; o Pinóquio, que ficou assustado com tanta agitação; a Sereia, a Violeta, o Zebro, a Aluca, a Turquia e a Figueira, que só estiveram interessados em comer molhos e mais molhos de feno.

O apetite, porém, acabou provocar um enorme desarranjo intestinal aos burros de Miranda do Douro. A cada passo ofereceram aos alfacinhas um presente mal cheiroso. Para os que ficaram mais atrás, o pivete acabou por ser útil.

"Onde é que se meteram os burrinhos?", perguntou João, desorientado. É só seguir o rasto que eles deixaram, tranquilizou a mãe do rapaz de seis anos, apontando para a calçada .

Os burros de Miranda surpreenderam também os mais velhos porque trouxeram consigo recordações de infância. Carlos Quintas já teve um burro quando era menino.

Usava o animal para transportar bilhas de gás na Aldeia de Montesinho, em Bragança. Acabou por deixá-lo quando partiu para Lisboa "O Andrade foi o meu companheiro durante anos", conta.

Carlos ficou com as lembranças e os burros de Miranda do Douro regressaram ao Castelo de São Jorge ao final da tarde. Em menos de nada os automobilistas voltaram às ruas da Baixa e os autocarros aos percursos de todos os dias. Os cafés encheram-se outra vez de turistas e as velhotas fecharam as janelas.

A arruada, promovida pela Associação Sete Sóis e Sete Luas e a EGEAC, serviu para assinalar o encerramento da exposição Hardware +Software= Burros, que o italiano Oliviero Toscani fotografou na aldeia de Malhadas, em Miranda do Douro, e que pode ser visitada no Castelo de São Jorge até terça-feira.

Quem perdeu ontem a arruada tem hoje uma última oportunidade. Os burros, os pauliteiros e os gaiteiros regressam entre as 10.30 e as 12.00 ao Castelo de São Jorge para oferecer mais um espectáculo à capital.

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