Nasceu em Torres Vedras mas diz-se sintrense, porque foi em Sintra que viveu toda a vida. Tirou o curso de Engenharia Informática no ISEL, que lhe deu "grandes bases e conhecimentos" e começou a trabalhar como consultor informático para a então Sonaecom. Mas Bruno Mota, tendo o empreendedorismo a correr-lhe nas veias, nunca seria feliz nem se sentiria completo se não virasse costas à estabilidade de uma carreira que se previa tranquila e bem-sucedida em nome do seu projeto.."Os meus pais hipotecaram a casa para pedir o crédito necessário para financiar o meu projeto e ainda me lembro de todas as manhãs me perguntarem se as coisas estavam a correr bem", conta. Era a vida deles que empenhavam por confiança no filho, na sua capacidade de criar alguma coisa maior. Mas por muito que acreditassem certamente sentiram na espinha o frio do risco tomado. Certo é que nunca lhe questionaram o valor. Apenas perguntavam como estavam a correr as coisas. Diariamente. "O meu pai ainda faz isso", ri-se. "Sou mesmo muito grato aos meus pais por terem ajudado, não sei se eu teria coragem para o fazer.".À mesa da esplanada do Myriad, sobre o Tejo que se alonga sem obstáculos muito além do Parque das Nações, conta-me a última metade dos seus 39 anos, aqueles em que fundou uma tecnológica e a fez crescer até se tornar apetitosa para os investidores franceses, que permitiram multiplicá-la até aos atuais mais de 1200 colaboradores em Portugal. Foi aliás à boleia da Bold que a Devoteam pôs aqui o pé pela primeira vez, uma aposta que se revelou certeira..Com cafés e água a molhar a conversa, madalena de framboesa de cortesia, vai-me explicando porque tinha a certeza que a estabilidade conseguida nos primeiros tempos dos seus vinte anos não lhe servia. "Ser consultor informático não se ajustava à minha personalidade; sou de contacto, de pessoas, e estava sentado atrás de um ecrã todo o dia. Então comecei à procura de oportunidades em IT mais relacionadas com vendas", onde pudesse ter esse toque que lhe enchia as medidas, ainda que permanecendo na sua área. A via do business management foi a solução, permitia-lhe lidar com clientes, fazer o processo de ponta a ponta, mas ao fim de três anos sem sentir os seus valores refletidos na empresa onde estava, e ao ver que o tempo de fazer o que acreditava ser sua vocação desaparecia, decidiu dar o salto. Levou como sócio Tiago Gouveia, que o acompanhava desde a Sonaecom, e juntos abriram uma empresa à sua imagem, com os seus princípios e valores.."Somos muito complementares e isso resultou na combinação perfeita na Bold. Foi talvez um dos fatores de sucesso", pondera, recuando a esses primeiros tempos, sobre os quais já passou mais de uma década. "Chamámos-lhe Bold International e quando íamos vender os nossos serviços, tentar fazer negócio, perguntavam-nos sempre se éramos o branch de uma companhia internacional. E nós tínhamos de dizer que não, que éramos só nós dois e a visão do que queríamos fazer com cliente de todo o mundo." Acha divertida a ideia de um nome bem escolhido (bold=ousado). "Sempre fomos pessoas de saltar para a piscina sem vermos se está lá a água. É uma forma de estar. Mas estávamos sempre muito focados em vender, desde o primeiro dia, e quanto mais dinheiro fazíamos mais investíamos. Nunca fui de dar passos maiores do que a perna e se tivesse visto que estava a descarrilar, teria cortado o mal pela raiz.".A tranquilidade de espírito atual diz-lhe que a idade teve influência nessa postura - "éramos muito novos, 26 anos" -, mas para quem já se sentou a ouvir-lhe os projetos e conhece o percurso que levou a Bold a ser a única 100% portuguesa a integrar o ranking do Financial Times das mil companhias europeias com crescimento mais rápido, em 2017, entende que essa forma de estar, a ponderação e a capacidade de ver soluções ainda antes de os problemas terem sido revelados, lhe está no ADN. Em sete anos de vida, a empresa já contava com 500 trabalhadores, escritórios em Lisboa, Porto, Aveiro e São Paulo nos quais prestava os seus serviços de consultoria, soluções para dispositivos móveis, marketing digital e soluções integradas para outras firmas. E tinha receitas de 15 milhões de euros..Hoje, 13 anos depois de abrir portas e apenas três passados sobre a entrada da Devoteam, a consultora líder em estratégia digital vende para fora 30% do que produz e prevê fechar o ano com um volume de negócios cinco vezes superior: 75 milhões de euros..Tiago saiu antes de a Devoteam comprar 58% do capital da Bold, em 2018 (hoje tem 65%). Foi abrir o escritório do Brasil e por lá se casou e fez vida. Ficou a amizade. A Bold seguiu o seu caminho com Bruno como maestro a solo, até sentir que, se queria dar passos maiores, precisava de um sócio que acrescentasse valor, que trouxesse oportunidades, clientes e projetos adicionais na desejada rota internacional. Diz-me que o caminho de profissionalização também veio pela mão da Devoteam, que o obrigou a focar o negócio nas soluções tecnológicas, mantendo a confiança na sua liderança e forma de fazer as coisas. E não se arrepende nada de ter cedido na condição que não estava preparado para ouvir: deixar de ter a maior fatia naquela que foi a sua primeira "filha", moldada por inspiração da pioneira Altran e apontando à fasquia das grandes consultoras, com valor acrescentado garantido pela tecnologia ligada ao negócio dos clientes..Relata como então pesquisou no mercado até encontrar candidatos a parceiros. "Não quis recorrer a especialistas. Quando se envolve empresas de M&A, o processo é mais bem feito, mas se calhar excluiria à partida empresas que nos interessavam; a nossa porta sempre esteve aberta a todos quantos manifestassem interesse, mas eu preferia as que estavam fora para podermos ganhar espaço.".Nessa altura identificou uma empresa estrangeira que já tinha presença em Portugal e se perfilava como boa candidata, mas algo não encaixava. "Como quando ainda estamos a namorar e as coisas já dão problemas", ri-se, explicando que o que lhe pediam era que deixasse a identidade da Bold e essa era uma linha que nunca esteve disposto a cruzar. Foi então que lhe apontaram a Devoteam e em poucas semanas estava sentado a jantar com o CEO em Paris. "Tinha ido conhecer os escritórios deles antes e tinham valores iguais aos nossos. Tive logo um bom feeling com o que vi e com os profissionais que conheci." A meio do jantar, porém, parecia que o negócio ia borregar. Prescindir da maioria não estava nos seus planos e era condição para a Devoteam. "Continuámos a jantar, a falar de outras coisas, e às tantas o CEO explicou-me que nenhuma empresa estaria disposta a dar as condições e oportunidades que eu desejava sem ter o controlo; ainda que isso não significasse controlar, apenas ter margem para agir se algo corresse mal. Percebi que só tinha a ganhar.".Impôs como condição a liberdade de fazer negócio em qualquer país, sem restrições, e manter a sua gestão e filosofia, algo que a Devoteam, presente em 21 países e que tem por princípio promover os empreendedores nas empresas que vai acrescentando ao portefólio, agradeceu. A troca de conhecimento e a riqueza de culturas contribuiu para acelerar o negócio, com o grupo a promover encontros regulares - e além de Portugal ser país de eleição para estes encontros, Bruno faz parte da comissão executiva da Devoteam, reconhecido do seu valor e experiência..Portugal é hoje a segunda maior geografia em colaboradores e está no top três no volume de negócios do grupo. A Bold mostrou à Devoteam o valor do país, o que resultou na deslocação de serviços para estas paragens e na criação de alguns centros de excelência em Portugal - Outsystems, Microsoft e AWS são bons exemplos. "Portugal não estava no radar deles, mas passaram a ver aqui talento e uma equipa de gestão com capacidade e skills", orgulha-se. Não apenas pelo que diretamente lhe diz respeito mas por ter contribuído de alguma forma para ajudar o país a afirmar-se..Quem o visse nascido numa família em que ter emprego para toda a vida era a bitola - o pai operador fabril e a mãe a dar suporte à mesma empresa - não imaginaria esta guinada. A começar pelos pais, que antes de lhe dar as ferramentas para se afirmar chegaram a pensar que tinha perdido o juízo. Foram eles, porém, que lhe passaram a educação, essa forma de pensar livre e confiante na capacidade de realizar o que nem se apercebia ser um espírito empreendedor. "Tenho um caderninho com 200 ideias que desde muito novo fui apontando. Sempre que viajava via oportunidades de negócio, coisas que achava que podiam funcionar. Mas não achava que fosse materializar alguma. Até o fazer. Creio que o empreendedorismo é algo que nasce connosco", admite..É aventureiro na vertente profissional, mas a estabilidade também faz parte da personalidade de Bruno Mota. E provavelmente por isso se viu casado não muito tempo depois de conhecer Lina e de nela reconhecer as qualidades que ao fim de 15 anos de vida comum faz questão de enaltecer. "Ela também é de Sintra e conhecemo-nos na despedida de um amigo que tínhamos em comum, que ia viver para Angola. Pedi-lhe que ma apresentasse e meses depois, já eu nem me lembrava, ele ligou a cumprir a promessa. Foi até hoje. Acredito que muito do que aconteceu na empresa tem a Lina por trás. Ela sempre me deu uma enorme estabilidade, soube perceber as minhas indisponibilidades, o tempo que não tive para ela enquanto estava focado na empresa", confessa. Enfermeira de formação, quis o acaso que, já com a primeira filha nascida, Laura - hoje com 6 anos e um irmão de 2, Francisco -, tivesse trocado a profissão pela vontade de ter um negócio, uma loja de roupa para criança. O que permitiu a Lina não ter de viver por dentro a dureza dos tempos de pandemia..Se Bruno reconhece que houve tempos em que não deu à mulher a atenção que ela merecia, isso mudou desde que a família cresceu: os filhos são o seu escape e não prescinde de os ver crescer, de os acompanhar, de brincar com eles. A Bold pode ser sua criação, mas as crianças são o seu maior orgulho. "Eles mudaram a minha vida", reconhece. "Quando forem maiorzitos, quero pô-los a jogar um desporto de equipa, como eu joguei; o que se aprende a partilhar o balneário, a gerir egos tão diferentes, dá-nos competências que ajudam noutras fases e contextos da vida.".O seu desporto é o futsal, que já jogou semiprofissionalmente, em Santa Susana, chegando até a defrontar, na primeira divisão, o seu Sporting de coração. De resto, confessa-se realizado com o que conseguiu atingir ainda antes dos 40 que completa neste ano. Mas enquanto empreendedor já sente algum formigueiro. "Na lista de objetivos próximos, tenho o de chegar aos 100 milhões, os seis dígitos parecem-me uma boa meta", sorri perante a perspetiva, sem querer pôr data na conquista mas sendo fácil adivinhar-lhe a ambição de o conseguir no menor tempo possível. Identifica outros desafios, como a adaptação decorrente da covid, que obrigou a rever a cultura da empresa para "manter o feeling em contexto de trabalho remoto". Continuar a somar clientes e dar-lhes mais valor e qualidade é outro dos seus propósitos, mas não consegue ver onde estará aos 45. A um prazo mais alongado, é mais fácil descrever-se: "Sou ainda muito executivo nesta fase, mas aos 60 quero ter um conjunto de negócios e mais tempo para mim, para aproveitar a vida de empreendedor de outra forma. Para viajar. E para gozar a vida de forma diferente, com a minha família."
Nasceu em Torres Vedras mas diz-se sintrense, porque foi em Sintra que viveu toda a vida. Tirou o curso de Engenharia Informática no ISEL, que lhe deu "grandes bases e conhecimentos" e começou a trabalhar como consultor informático para a então Sonaecom. Mas Bruno Mota, tendo o empreendedorismo a correr-lhe nas veias, nunca seria feliz nem se sentiria completo se não virasse costas à estabilidade de uma carreira que se previa tranquila e bem-sucedida em nome do seu projeto.."Os meus pais hipotecaram a casa para pedir o crédito necessário para financiar o meu projeto e ainda me lembro de todas as manhãs me perguntarem se as coisas estavam a correr bem", conta. Era a vida deles que empenhavam por confiança no filho, na sua capacidade de criar alguma coisa maior. Mas por muito que acreditassem certamente sentiram na espinha o frio do risco tomado. Certo é que nunca lhe questionaram o valor. Apenas perguntavam como estavam a correr as coisas. Diariamente. "O meu pai ainda faz isso", ri-se. "Sou mesmo muito grato aos meus pais por terem ajudado, não sei se eu teria coragem para o fazer.".À mesa da esplanada do Myriad, sobre o Tejo que se alonga sem obstáculos muito além do Parque das Nações, conta-me a última metade dos seus 39 anos, aqueles em que fundou uma tecnológica e a fez crescer até se tornar apetitosa para os investidores franceses, que permitiram multiplicá-la até aos atuais mais de 1200 colaboradores em Portugal. Foi aliás à boleia da Bold que a Devoteam pôs aqui o pé pela primeira vez, uma aposta que se revelou certeira..Com cafés e água a molhar a conversa, madalena de framboesa de cortesia, vai-me explicando porque tinha a certeza que a estabilidade conseguida nos primeiros tempos dos seus vinte anos não lhe servia. "Ser consultor informático não se ajustava à minha personalidade; sou de contacto, de pessoas, e estava sentado atrás de um ecrã todo o dia. Então comecei à procura de oportunidades em IT mais relacionadas com vendas", onde pudesse ter esse toque que lhe enchia as medidas, ainda que permanecendo na sua área. A via do business management foi a solução, permitia-lhe lidar com clientes, fazer o processo de ponta a ponta, mas ao fim de três anos sem sentir os seus valores refletidos na empresa onde estava, e ao ver que o tempo de fazer o que acreditava ser sua vocação desaparecia, decidiu dar o salto. Levou como sócio Tiago Gouveia, que o acompanhava desde a Sonaecom, e juntos abriram uma empresa à sua imagem, com os seus princípios e valores.."Somos muito complementares e isso resultou na combinação perfeita na Bold. Foi talvez um dos fatores de sucesso", pondera, recuando a esses primeiros tempos, sobre os quais já passou mais de uma década. "Chamámos-lhe Bold International e quando íamos vender os nossos serviços, tentar fazer negócio, perguntavam-nos sempre se éramos o branch de uma companhia internacional. E nós tínhamos de dizer que não, que éramos só nós dois e a visão do que queríamos fazer com cliente de todo o mundo." Acha divertida a ideia de um nome bem escolhido (bold=ousado). "Sempre fomos pessoas de saltar para a piscina sem vermos se está lá a água. É uma forma de estar. Mas estávamos sempre muito focados em vender, desde o primeiro dia, e quanto mais dinheiro fazíamos mais investíamos. Nunca fui de dar passos maiores do que a perna e se tivesse visto que estava a descarrilar, teria cortado o mal pela raiz.".A tranquilidade de espírito atual diz-lhe que a idade teve influência nessa postura - "éramos muito novos, 26 anos" -, mas para quem já se sentou a ouvir-lhe os projetos e conhece o percurso que levou a Bold a ser a única 100% portuguesa a integrar o ranking do Financial Times das mil companhias europeias com crescimento mais rápido, em 2017, entende que essa forma de estar, a ponderação e a capacidade de ver soluções ainda antes de os problemas terem sido revelados, lhe está no ADN. Em sete anos de vida, a empresa já contava com 500 trabalhadores, escritórios em Lisboa, Porto, Aveiro e São Paulo nos quais prestava os seus serviços de consultoria, soluções para dispositivos móveis, marketing digital e soluções integradas para outras firmas. E tinha receitas de 15 milhões de euros..Hoje, 13 anos depois de abrir portas e apenas três passados sobre a entrada da Devoteam, a consultora líder em estratégia digital vende para fora 30% do que produz e prevê fechar o ano com um volume de negócios cinco vezes superior: 75 milhões de euros..Tiago saiu antes de a Devoteam comprar 58% do capital da Bold, em 2018 (hoje tem 65%). Foi abrir o escritório do Brasil e por lá se casou e fez vida. Ficou a amizade. A Bold seguiu o seu caminho com Bruno como maestro a solo, até sentir que, se queria dar passos maiores, precisava de um sócio que acrescentasse valor, que trouxesse oportunidades, clientes e projetos adicionais na desejada rota internacional. Diz-me que o caminho de profissionalização também veio pela mão da Devoteam, que o obrigou a focar o negócio nas soluções tecnológicas, mantendo a confiança na sua liderança e forma de fazer as coisas. E não se arrepende nada de ter cedido na condição que não estava preparado para ouvir: deixar de ter a maior fatia naquela que foi a sua primeira "filha", moldada por inspiração da pioneira Altran e apontando à fasquia das grandes consultoras, com valor acrescentado garantido pela tecnologia ligada ao negócio dos clientes..Relata como então pesquisou no mercado até encontrar candidatos a parceiros. "Não quis recorrer a especialistas. Quando se envolve empresas de M&A, o processo é mais bem feito, mas se calhar excluiria à partida empresas que nos interessavam; a nossa porta sempre esteve aberta a todos quantos manifestassem interesse, mas eu preferia as que estavam fora para podermos ganhar espaço.".Nessa altura identificou uma empresa estrangeira que já tinha presença em Portugal e se perfilava como boa candidata, mas algo não encaixava. "Como quando ainda estamos a namorar e as coisas já dão problemas", ri-se, explicando que o que lhe pediam era que deixasse a identidade da Bold e essa era uma linha que nunca esteve disposto a cruzar. Foi então que lhe apontaram a Devoteam e em poucas semanas estava sentado a jantar com o CEO em Paris. "Tinha ido conhecer os escritórios deles antes e tinham valores iguais aos nossos. Tive logo um bom feeling com o que vi e com os profissionais que conheci." A meio do jantar, porém, parecia que o negócio ia borregar. Prescindir da maioria não estava nos seus planos e era condição para a Devoteam. "Continuámos a jantar, a falar de outras coisas, e às tantas o CEO explicou-me que nenhuma empresa estaria disposta a dar as condições e oportunidades que eu desejava sem ter o controlo; ainda que isso não significasse controlar, apenas ter margem para agir se algo corresse mal. Percebi que só tinha a ganhar.".Impôs como condição a liberdade de fazer negócio em qualquer país, sem restrições, e manter a sua gestão e filosofia, algo que a Devoteam, presente em 21 países e que tem por princípio promover os empreendedores nas empresas que vai acrescentando ao portefólio, agradeceu. A troca de conhecimento e a riqueza de culturas contribuiu para acelerar o negócio, com o grupo a promover encontros regulares - e além de Portugal ser país de eleição para estes encontros, Bruno faz parte da comissão executiva da Devoteam, reconhecido do seu valor e experiência..Portugal é hoje a segunda maior geografia em colaboradores e está no top três no volume de negócios do grupo. A Bold mostrou à Devoteam o valor do país, o que resultou na deslocação de serviços para estas paragens e na criação de alguns centros de excelência em Portugal - Outsystems, Microsoft e AWS são bons exemplos. "Portugal não estava no radar deles, mas passaram a ver aqui talento e uma equipa de gestão com capacidade e skills", orgulha-se. Não apenas pelo que diretamente lhe diz respeito mas por ter contribuído de alguma forma para ajudar o país a afirmar-se..Quem o visse nascido numa família em que ter emprego para toda a vida era a bitola - o pai operador fabril e a mãe a dar suporte à mesma empresa - não imaginaria esta guinada. A começar pelos pais, que antes de lhe dar as ferramentas para se afirmar chegaram a pensar que tinha perdido o juízo. Foram eles, porém, que lhe passaram a educação, essa forma de pensar livre e confiante na capacidade de realizar o que nem se apercebia ser um espírito empreendedor. "Tenho um caderninho com 200 ideias que desde muito novo fui apontando. Sempre que viajava via oportunidades de negócio, coisas que achava que podiam funcionar. Mas não achava que fosse materializar alguma. Até o fazer. Creio que o empreendedorismo é algo que nasce connosco", admite..É aventureiro na vertente profissional, mas a estabilidade também faz parte da personalidade de Bruno Mota. E provavelmente por isso se viu casado não muito tempo depois de conhecer Lina e de nela reconhecer as qualidades que ao fim de 15 anos de vida comum faz questão de enaltecer. "Ela também é de Sintra e conhecemo-nos na despedida de um amigo que tínhamos em comum, que ia viver para Angola. Pedi-lhe que ma apresentasse e meses depois, já eu nem me lembrava, ele ligou a cumprir a promessa. Foi até hoje. Acredito que muito do que aconteceu na empresa tem a Lina por trás. Ela sempre me deu uma enorme estabilidade, soube perceber as minhas indisponibilidades, o tempo que não tive para ela enquanto estava focado na empresa", confessa. Enfermeira de formação, quis o acaso que, já com a primeira filha nascida, Laura - hoje com 6 anos e um irmão de 2, Francisco -, tivesse trocado a profissão pela vontade de ter um negócio, uma loja de roupa para criança. O que permitiu a Lina não ter de viver por dentro a dureza dos tempos de pandemia..Se Bruno reconhece que houve tempos em que não deu à mulher a atenção que ela merecia, isso mudou desde que a família cresceu: os filhos são o seu escape e não prescinde de os ver crescer, de os acompanhar, de brincar com eles. A Bold pode ser sua criação, mas as crianças são o seu maior orgulho. "Eles mudaram a minha vida", reconhece. "Quando forem maiorzitos, quero pô-los a jogar um desporto de equipa, como eu joguei; o que se aprende a partilhar o balneário, a gerir egos tão diferentes, dá-nos competências que ajudam noutras fases e contextos da vida.".O seu desporto é o futsal, que já jogou semiprofissionalmente, em Santa Susana, chegando até a defrontar, na primeira divisão, o seu Sporting de coração. De resto, confessa-se realizado com o que conseguiu atingir ainda antes dos 40 que completa neste ano. Mas enquanto empreendedor já sente algum formigueiro. "Na lista de objetivos próximos, tenho o de chegar aos 100 milhões, os seis dígitos parecem-me uma boa meta", sorri perante a perspetiva, sem querer pôr data na conquista mas sendo fácil adivinhar-lhe a ambição de o conseguir no menor tempo possível. Identifica outros desafios, como a adaptação decorrente da covid, que obrigou a rever a cultura da empresa para "manter o feeling em contexto de trabalho remoto". Continuar a somar clientes e dar-lhes mais valor e qualidade é outro dos seus propósitos, mas não consegue ver onde estará aos 45. A um prazo mais alongado, é mais fácil descrever-se: "Sou ainda muito executivo nesta fase, mas aos 60 quero ter um conjunto de negócios e mais tempo para mim, para aproveitar a vida de empreendedor de outra forma. Para viajar. E para gozar a vida de forma diferente, com a minha família."