Bruno de Carvalho dizer piropo não diz, só insulta

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O trabalhador quer ir embora mas o patrão obriga-o a cumprir o contrato, que só acaba no verão. Problema do trabalhador, um contrato é um acordo entre iguais e qualquer das partes tem de se sujeitar ao combinado entre homens livres. Adiante e passando aos pormenores. O trabalhador não é bate-chapas na Autoeuropa, nem piloto da TAP, nem estagiário em firma de advogados - e nem digo isto para lembrar que ele ganha mais do que qualquer desses aí atrás. Isso é irrelevante neste caso. O importante é que o trabalhador é futebolista. O único ofício em que o patrão pode insultar o profissional e gabar-se disso em jornais. O jogador é o peruano Carrillo e o seu patrão, Bruno de Carvalho, pode permitir-se dizer numa entrevista: "Se não tivesse existido o Sporting na sua vida possivelmente nem jogaria futebol, estaria a jogar numa rua qualquer do Peru." E, duma relação profissional, explicá-la como esmola: "(...) fizemo-lo crescer, educámo-lo, vestimo-lo, alimentámo-lo..." Impensável ouvirmos Paulo de Azevedo dizer de uma caixeira do Continente: "Se não lhe déssemos a mão, ela andava aos caídos na Brandoa." O patrão de Carrillo permite-se os insultos porque a indústria do futebol se move por emoções. O bate-chapas da Autoeuropa, sportinguista ou não, faz mal em não ver nas bojardas de Bruno de Carvalho a soberba eterna dos senhoritos. E não entendo como gostar de coisa tão bela como o futebol aceita ser derrotado pela soberba de gente vulgar.

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