Bruno de Carvalho ataca Varandas. As quotas em atraso, as críticas a Jesus e a foto privada

No livro que foi colocado esta sexta-feira à venda, Bruno de Carvalho lança fortes ataques a Frederico Varandas, acusando o médico de andar a preparar há muito tempo a candidatura à presidência do Sporting.
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Bruno de Carvalho lança esta sexta-feira o seu livro, "Sem filtro - As histórias dos bastidores da minha presidência", em que fala da sua passagem pelo Sporting, entre 2013 e 2018, quando foi destituído do cargo, em Assembleia Geral. Um livro onde conta vários episódios de bastidores, histórias nunca antes contadas, dando a sua versão dos factos.

Entre revelações de vária ordem, há capítulos onde o nome de Frederico Varandas, atual presidente do Sporting que na altura da presidência de Bruno de Carvalho chefiava o departamento médico, é mencionado várias vezes, com Bruno de Carvalho a acusar o seu sucessor de andar há muito tempo a preparar a candidatura à presidência. Para o ex-líder leonino, a ideia terá começado em 2016, "quando pagou as quotas em atraso para recuperar o seu número de sócio antigo". Aqui ficam alguns excertos do livro onde Frederico Varandas é visado.

"É fácil perceber que não foram os jogadores a escrever aquele comunicado [contra Bruno de Carvalho, depois das críticas que fez aos jogadores nas redes sociais]. O que se dizia nos corredores de Alvalade era que a redação do documento contou com a preciosa ajuda de João Pedro Varandas, irmão de Frederico Varandas, que foi vogal do Conselho Diretivo no mandato de Godinho Lopes, em colaboração com Rogério Alves. Os dois são sócios na RA&A, uma empresa de advocacia. A ser verdade, isto só mostra que Frederico Varandas começou a sonhar com a presidência do Sporting muito antes da final da Taça de Portugal, em que perdemos contra o Aves, ao contrário do que disse nessa altura quando anunciou que seria candidato. Posso até dizer que acredito que ele tenha começado a alimentar essa ideia ainda em 2016, quando pagou as quotas em atraso para recuperar o seu número de sócio antigo. E convém lembrar que Rogério Alves é o atual presidente da Mesa da Assembleia Geral do Sporting e foi eleito pela lista de Frederico Varandas nas últimas eleições. Coincidências? Se tudo aquilo que ouvi nessa altura for verdade, os irmãos Varandas e Rogério Alves, com a ajuda de Jorge Jesus, levaram os jogadores a publicar aquele comunicado e a virarem-se contra mim."

Bruno de Carvalho, num outro capítulo do livro, acusa Frederico Varandas de ter sido o autor da fotografia que posteriormente foi parar às redes sociais, na qual se vê o ex-líder leonino a ser assistido nos balneários pelos enfermeiros do clube no célebre jogo com o Paços de Ferreira em que saiu do relvado amparado e com dores nas costas.

"O mais importante: ganhámos 2-0 [ao Paços de Ferreira]. Vi todo o jogo sentado. Estava muito frio nesse dia e comecei a sentir fortes dores nas costas. É um problema que tenho há muitos anos. Fui aguentando aquelas picadas e sabia que já não me conseguia mexer. Quando o encontro terminou, levantei-me com muitas dificuldades. Caminhei debruçado, com a mão nas costas, e tive de ser ajudado por elementos do staff do Sporting. Levaram-me até ao posto médico. Foi aí que alguém tirou uma fotografia comigo deitado na maca enquanto estava a ser assistido. A fotografia foi logo parar às redações de alguns jornais. Inicialmente, pensei que tivesse sido um elemento do plantel, porque também lá estavam alguns jogadores, e cheguei a escrever isso no meu Facebook: "Quero agradecer ao jogador que espalhou esta foto. É isto que a bancada quer." Hoje, consigo reconhecer que possivelmente fui injusto. Depois de pensar melhor, e olhar bem para a fotografia, lembrei-me das poucas pessoas que estavam naquele enquadramento. Um deles era o nosso médico, e atual presidente do Sporting, Frederico Varandas. Lembro-me bem de que, num dos momentos em que me virei, ele continuava a mexer no telemóvel. Todas aquelas pessoas que se preparavam para tentar tomar o poder do Sporting começavam a sair da casca."

Mais à frente, num capítulo a que chamou "a hipocrisia de um médico", volta aos ataques a Frederico Varandas, acusando o então médico dos leões de querer ser o salvador da pátria, de dizer mal de Jorge Jesus e de ter posto "a máquina em movimento".

"É nesta parte que voltamos a Jorge Jesus e Frederico Varandas. Já disse antes que eles foram os homens que potenciaram os efeitos negativos que o ataque à Academia teve sobre a nossa administração. Fiz ver isso mesmo ao Jorge, numa reunião que tivemos já depois da derrota com o Aves na final da Taça de Portugal [...] Para mostrarmos que não teria sido aquele ataque cobarde a pôr em causa os nossos objetivos, união e grandeza. Mas o Jorge não entendeu assim e deu a possibilidade a Varandas de se armar em salvador da pátria, colocando os jogadores a trabalhar à parte na sua clínica e imortalizando todos os momentos nas redes sociais. Onde é que já se viu uma equipa andar a fazer treinos individuais dias antes da decisão de um título? "Essa decisão deu cabo de mim, Jorge", desabafei com ele. Explicou-me que jamais iria fazer algo contra mim. Que nunca foi a sua intenção. E depois disse algo que me deixou intrigado: "Mas a máquina já está em movimento." Na altura, não consegui perceber o significado daquelas palavras. Fiquei esclarecido mais tarde, já depois de termos sido destituídos, durante a campanha eleitoral. O Jorge aceitou o convite para pertencer à comissão de honra da lista de Frederico Varandas. O mesmo médico que agora é presidente do Sporting e que anunciou a sua candidatura aproveitando a contestação que estávamos a sofrer e a derrota na final da Taça de Portugal. Disse que foi precisamente no relvado do Jamor, após o jogo, que tomou aquela decisão. Por tudo o que já expliquei, é óbvio que ele já pensava nisso há muito mais tempo. Outra particularidade de Varandas: costumava vir ter comigo e dizer cobras e lagartos sobre o Jorge. Que era um mau treinador, que massacrava os jogadores e que depois estes tinham muitas lesões, que não ouvia as recomendações do departamento clínico. Depois, mais tarde, já eram grandes amigos e até o convidou para a sua comissão de honra. É a prova de que a hipocrisia, para algumas pessoas, não tem limites. E tudo isso faz com que, ao dia de hoje, me arrependa bastante de não ter demitido Jorge Jesus logo naquela reunião após a derrota com o Marítimo. Teria sido a melhor opção. No entanto, ele acabou por não receber a nota de culpa nesse dia e deixámo-lo orientar a equipa na final da Taça de Portugal. A partir daí, com o que foi espoletado pelos ataques à Academia, eu e a minha administração passámos a viver num clima de terror. Tudo protagonizado por José Maria Ricciardi, com a forte colaboração de Álvaro Sobrinho, Jaime Marta Soares, Artur Torres Pereira, Sousa Cintra, Frederico Varandas e daquele que tinha sido o nosso treinador. O Jorge tinha razão: a máquina estava mesmo em movimento."

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